quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Agoniza mas não Morre




Nascia, em 25 de julho de 1924, aquele que posteriormente ficaria conhecido como um dos grandes compositores da história do samba: Nelson Mattos, popularmente conhecido como Nelson Sargento. Apelido conquistado pelos serviços prestados às forças armadas, Nelson Sargento é a história viva do samba, é o próprio samba em pessoa, quase uma entidade. Aos noventa anos de idade nosso querido Nelson pode ser visto como testemunha ocular das transformações que o samba e a sociedade passaram desde os “tempos idos”, até os “dias atuais”.

Nascido na Tijuca, Nelson viveu boa parte de sua infância no Morro do Salgueiro com sua mãe Rosa Maria, empregada doméstica e lavadeira. No morro Nelosn aproximou-se do samba,  chegando a tocar tamborim  em desfiles da escola “Azul e Branco”, uma das três escolas que posteriormente formariam o Acadêmicos do Salgueiro.

Por questões de ordem financeira, Nelson, ainda jovem, foi morar no Morro da Mangueira. Lá ele conheceu um Alfredo Português, antigo compositor do Estação Primeira de Mangueia, que o aproximou da escola. “Apadrinhado” por Carlos Cachaça, Nelson Sargento se aproximou de Cartola e Nelson Cavaquinho, com os quais aprendeu a tocar violão e aperfeiçoar suas melodias. Aos poucos foi sendo reconhecido pela escola, sendo coroado com a escolha de seus samba-enredo “Primavera” (um dos mais bonitos de todos os tempos) para defender as cores da Mangueira no carnaval de 1955.

 Nos anos 60 passa a frequentar o “badalado” bar Zicartola, ganhando maior notoriedade do meio artístico-profissional e de grupos sociais com maior poder aquisitivo, consumidores da arte e cultura. Nesta época foi convidado a  participar  do espetáculo “Rosa de Ouro” e passou a integrar  o grupo “A Voz do Morro” junto com outros bambas (tais como  Zé Kéti, Paulinho da Viola, Elton Medeiros,  Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Zé Cruz e Oscar Bigode), gravando dois discos.

Assim como outros bambas da época, Nelson foi condenado ao ostracismo nas décadas seguintes, muito por conta de novas influências musicais e artísticas que despontavam e redirecionavam o mercado fonográfico do momento. A crescente e caótica urbanização e a introdução de novos padrões de entretenimento e sociabilidade foi remodelando os padrões culturais, impondo transformações inclusive na forma de se fazer samba. Como consequência a Velha Guada do samba já não era tão interessante para os negócios culturais.

Em 1979 Beth Carvalho gravou uma música de Nelson Sargento que se tornaria, em suas palavras, o “hino do samba”: Agoniza mas não Morre. Este samba não deixa de ser uma resposta as transformações apontadas acima, mas além disso, indica a resistência do próprio samba, mesmo com modificações em sua estrutura, a tais transformações. Porque nem sempre as mudanças de ordem política e econômica são capazes de solapar uma cultura genuína e espontânea, base para o autorreconhecimento e identidade de certo grupo ou classe social.

Apesar disso, Nelson Sargento nunca foi saudosista ao ponto de negar as transformações que as novas gerações impuseram ao samba. Ele, certa vez,  disse que, quando jovem, também queria fazer as coisas de forma diferente, de seu jeito. A diferença, segundo ele, era que existia, naquela época, certo respeito e uma busca de aprendizado com os mais velhos, aspecto que foi se perdendo com o passar das gerações.      

Nelson não foi apenas um grande sambista, mas também um grande artista plástico e um grande filósofo do samba e da vida. Em seus sambas as questões existenciais se confundem com os problemas do cotidiano, não existindo soluções simplistas ou maniqueistas para os dilemas da vida. Ouvir e tocar Nelson Sargento é aprender, aprender sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo. O samba, este “negro forte e destemido”, lhe agradece.



Por essas e outras o Projeto de Samba Sibipiruna tem, humildemente, a honra de homenagear este grande mestre do samba cantando algumas de suas principais canções neste domingo, dia 7/12/2014, a partir das 16 horas, no Bar Esquina 108, próximo à moradia estudantil da Unicamp.

domingo, 26 de outubro de 2014

E fez-se a melodia.


       Wilson Moreira nasceu em 1936, na cidade do Rio de Janeiro. Sua família havia migrado de Minas Gerais - tradicional região de jongueiros - para o bairro do Realengo, subúrbio da zona norte carioca, onde o garoto cresceu. Quando jovem, desfilava na Escola de Samba Água Branca tocando tamborim. Mais tarde, quando esta agremiação se juntou à Mocidade Independente de Padre Miguel, sob o nome desta, Wilson passou a tocar surdo na bateria que viria a se destacar como uma das melhores do Rio de Janeiro, sob a liderança do grande Mestre André. Na Mocidade, Wilson foi um dos fundadores da Ala de Compositores e também de uma das principais alas da escola, a Ala Mocidade Unida de Realengo. 
       Algum tempo depois, em meados da década de 60, Wilson entrou para a Escola de Samba Portela e sua renomada Ala de Compositores, da qual faziam parte bambas como Candeia, Manacéia, Alvaiade e Casquinha. Na Portela, tornou-se parceiro de Candeia em dois sambas que faziam muito sucesso por lá, “Mel e Mamão com Açúcar” e “Não tem veneno”.   
          Entre 1968 e 1970, Wilson realizou um curso de música com o famosos maestro Guerra-Peixe, no MIS do Rio de Janeiro, graças a uma bolsa de estudos distribuída entre compositores de Escolas de Samba cariocas. Também no final da década de sessenta, Moreira fez parte do grupo de samba “Os Cinco Só”, que teve várias formações, com grandes sambistas como Darcy da Mangueira, Pelado da Mangueira, Jair do Cavaquinho e Garcia do Salgueiro. Paralelamente à vida de sambista, Wilson trabalhava como carcerário na penitenciária de Bangu, profissão que exerceu até se aposentar (ver link 1 no final do texto).
        Foi na década de 70 que Wilson Moreira veio a conhecer Nei Lopes, aquele que seria o seu mais constante parceiro e com o qual compôs alguns dos seus maiores sucessos. Conta o próprio Nei Lopes que na época ele procurava um parceiro para as letras que compunha, e foi Délcio Carvalho quem indicou Wilson Moreira, dizendo para o amigo que aquele sambista da Portela “colocava melodia até em bula de remédio”. 
        Em 1974 gravou as faixas “Mel e Mamão com Açúcar” e “Meu Apelo” no disco “Quem Samba Fica”, que contava com outros grandes compositores como Casquinha e Sidney da Conceição e a compositora Dona Ivone Lara. No ano seguinte, participou de dois discos do lendário grupo de partido-alto “Partido em 5”, ao lado de outros feras da nossa música como Candeia, Velha e Anézio. Com este mesmo grupo, voltaria a gravar em 1985, quando foi revelado o seu apelido “Alicate”, devido ao fato de apertar a mão dos outros bem forte quando cumprimentando.
       Falando em Partido-Alto, Wilson Moreira fez participações em dois filmes gravados na década de 70 que visavam registrar os bambas nesta modalidade de samba. No filme “Partido Alto” (1976 – 1982) de Leon Hirszman, o portelense aparece tocando ganzá, versando no partido de Candeia e dançando o miudinho. Já no curta metragem “Partideiros” (diretor não identificado), de 1978, Wilson é um dos entrevistados e canta seu partido “Coisa da Antiga”, parceria com Nei Lopes, gravado por Clara Nunes (ver links 2 e 3 no final do texto). 
      Na primeira metade da década de oitenta, Wilson Moreira gravou dois discos ao lado de seu parceiro Nei Lopes, os clássicos “A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes” em 1980 e “O Partido Muito Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes” de 1985. Na segunda metade desta década, por sua vez, o sambista gravou dois discos solos. O primeiro deles, lançado no Brasil e intitulado “Peso na Balança”, trouxe alguns dos mais belos sambas do compositor, como aquele que dá título ao disco e outros como “Portela e seus Encantos” e “Um Samba pra Ela que Chora”. O segundo disco individual de Moreira “Okolofé” foi gravado graças a uma parceria com um produtor japonês e lançado inicialmente só no Japão. Neste disco, o grande violonista Raphael Rabello participou em “Canção Carreiro”. Reza a lenda que Rabello, em carreira solo, já havia parado de acompanhar cantores, mas ao ouvir as belíssimas e singulares melodias de Wilson Moreira, teria se convidado para acompanhar o cantor. 
      A década de 90 foi marcada pela participação de Wilson em discos como “Estácio e Flamengo – 100 anos de samba e amor” e “50 anos” - este último de Aldir Blanc -, mas também por um acontecimento não muito feliz. Em 1997 ele teve um derrame, que debilitou sua saúde. Então os amigos sambistas, naquele momento de dificuldade, se uniram em prol do portelense, realizando apresentações que trouxeram novamente a alegria e a esperança para o coração de Okolofé. Certamente, a solidariedade dos amigos fez com que Wilson se recuperasse mais rápido e iniciasse os anos dois mil gravando novamente. “Entidade”, lançado em 2002, é um dos mais belos álbuns de samba, repleto de brasas como “Oloan”, “Jeito da Roça”, “Jongueiro Cumba” e “Pregoeiro do Amor”. O disco traz o samba em seus diversos aspectos e formatos, desde o jongo, a congada, o calango, passando pela temática religiosa, o samba de quadra e o partido-alto. Inúmeras homenagens então começaram a ser realizadas, para celebrar a vida e a obra deste autêntico compositor popular brasileiro; inclusive um show no ano de 2006 em homenagem aos setenta anos de Wilson Moreira. Em 2011 foi inaugurado o “Centro Cultural Solar de Wilson Moreira”, espaço em homenagem ao sambista, dedicado a eventos de samba e temática popular e afro-brasileira. Naquele espaço foi lançado o disco “Wilson Moreira + Baticum”, que havia sido gravado na década de 90. Neste disco, “Alicate” é acompanhado por quatro dos maiores percussionistas brasileiros, em arranjos originais e recheados de atabaques. 
      Como um bom sambista e melodista que é, Wilson Moreira teve inúmeros parceiros ao longo da sua trajetória no samba. Dentre eles, destacam-se Candeia, Nei Lopes, Neizinho e Jurandir Cândido.  Suas letras e melodias foram gravadas por grandes intérpretes como Clara Nunes, João Nogueira, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione e Elizeth Cardoso. Entre alguns dos sucessos emplacados estão “Goiabada Cascão” (com Nei Lopes), gravado por Beth Carvalho, “Leonel/Leonor” (com Neizinho), gravado por Roberto Ribeiro, “Gostoso Veneno” (com Nei Lopes) gravado por Alcione, além de “Quintal do Céu” e “Judia de Mim” gravados por Zeca Pagodinho.
      Wilson Moreira, pela sua obra, pela pessoa que é e pela sua trajetória no samba, merece todas as homenagens do mundo. Como a Sibipiruna não quer ficar de fora, armou ela também a sua homenagem a este autêntico produto brasileiro, bem resolvido com sua identidade, com sua religiosidade e musicalidade. A sua bênção Wilson Moreira! A Sibipiruna pede passagem, até as suas raízes vão balançar no dia 02 de novembro ao som das brasas deste grande sambista! 

André Santos
25/10/2014


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Três anos de Alegrias e Emoções




 Se fossemos resumir o terceiro ano do Projeto de Samba Sibipiruna, poderíamos afirma que este foi marcado por muitas alegrias e emoções, decorrentes do fortalecimento das relações emotivas e afetivas estabelecidas entre as pessoas através da roda, e difundidas para o público em geral que vem chegando mês a mês e descobrindo uma forma particular de sociabilidade.

Neste ano, em diversos momentos a emoção aflorou nossos sentidos. Quem não não se lembra da singela homenagem que fizemos ao Sócrates (ex integrante do grupo Os Originais do Samba), e sua emoção ao receber as flores cobertas de aplausos? Quem não se lembra da homenagem póstuma feita a Helder Bitencourt (um dos grandes sambista da cidade de Campinas), a presença dos seus amigos e familiares, nosso minuto de silêncio regado aos sambas que ele mais gostava de cantar? E o arrepio que deu quando as mulheres soltaram a voz para homenagear Beth Carvalho no samba “Andança”? Foi tão bonito quanto o frio na espinha que sentimos quando todo mundo emocionado cantou “É proibido sonhar, então me deixe o direito de sambar (…)”, de Batatinha. E o sentimentalismo regado a wisky na homenagem a Vinícius de Moraes? Quem não se lembra da homenagem póstuma a Nelson Primo, Paquera e a alegre homenagem a Jair Rodrigues, quando tivemos a oportunidade de cantar alegremente diversos sambas-rocks e sambas-raps?

Mas de tantas emoções, acredito que um dos momentos mais marcantes de toda a nossa singela roda de samba foi quando do nascimento da Flora (filha de Bia Andrade), justamente no final da Sibipiruna, enquanto homenageávamos Sombrinha. A notícia foi chegando aos poucos, as pessoas foram se emocionando, o abraço final estava bem afetuoso. Quando a notícia foi completamente socializada, gritamos fortemente “Viva o Samba, Viva a Vida, Viva a Flora”. Não deu para segurar as lágrimas quando depois disso tudo, cantamos “O Show tem que Continuar”. A choradeira foi generalizada e contagiante.

Pois bem, neste ano consolidaram-se novos integrantes, novas amizades, novos compositores. Alguns se foram, outros chegaram. Brindamos o samba, a alegria, a amizade. De fato, a roda está crescendo e novos desafios vem surgindo. Que este novo momento jamais tire a essência inicial, espontânea e despretensiosa de nossa roda, que possamos manter sempre viva a nossa raiz e os reais motivos de nos encontrarmos mensalmente num bar para fazer, culturalmente, o que é de mais autêntico e original de nosso povo: O SAMBA !

Viva o Samba, Viva a Cultura Popular !!!
1, 2, 3, SIBIPIRUNA.

O quê? Aniversários de 3 anos do Projeto de Samba Sibipiruna
Quando? Dia 28/09/2014.

Onde? Bar Esquina 108, a partir das 16 horas.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Luiz Carlos "das" Vilas




Por Daniel Martins (Dan)


"O samba corre nas veias dessa pátria-mãe gentil."


Carioca nascido no ano de 1949 Luiz Carlos da Vila (tornou-se “da Vila” em 1977 quando entrou para a ala de compositores da G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel, ou quem sabe antes, por ser morador da Travessa da Amizade na Vila da Penha), descobriu a música na infância através de um acordeão, durante a adolescência ganhou um violão e frequentou aulas que mais tarde foram interrompidas devido ao desemprego do pai.

À partir do final da década de 70 participou do tradicional bloco Cacique de Ramos. Tornou-se nome respeitado entre os sambistas devido as composições sagazes, espirituosas e sempre mostrando preocupação com a realidade social e política do povo negro, do povo pobre. Compôs belas obras ao lado de Sombrinha, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Mestre Candeia. Em 1988, ano do centenário da abolição da escravatura, compôs em parceria com Jonas e Rodolpho o samba enredo “Kizomba: Festa das Raças” que deu a Vila Isabel seu primeiro título no grupo especial do carnaval carioca (Vale a leitura do texto de Américo Souza:


Ao lado de Dorina e Mauro Diniz criou em 2003 o Suburbanistas, espetáculo que cantava sambas de compositores do suburbio carioca, mais tarde o grupo se tornaria também o Bloco Suburbanistas que saia em Irajá, Oswaldo Cruz, Vila da Penha, Vista Alegre, Braz de Pina e Santa Tereza. Faleceu em 20 de outubro de 2008 e foi velado com as devidas honrarias que um sambista com sua história merece.

Em 2015 será a vez da G.R.E.S Unidos de Viradouro cantar na avenida mais uma linda e forte canção de nosso homenageado: “Nas veias do Brasil” será o samba enredo que marcará o retorno da escola ao grupo especial do carnaval carioca.


A notoriedade do poeta lhe rendeu flores em vida, ainda que muito aquem de sua linda obra, sendo assim venho, com a humildade de quem apenas engatinha nas veredas do samba mas que teve em Luiz Carlos da Vila uma de minhas primeiras referências, pedir licença para que nossa roda, através de seu nome, faça mais uma vez o samba correr em nossas veias.

Por essas e outras a Sibipiruna chama todos e todas a participar desta linda homenagem, dia 07, domingo, a partir das 15 horas, no Bar Esquina 108 (Próximo à Moradia Estudantil da Unicamp).

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Zeca Pagodinho é o homenageado da Sibipiruna





Por SIMONE SILVA E MILENA MACHADO

“A lua
Quando clareia o terreiro
Em forma de pandeiro
O samba brasileiro fica mais bonito...”
(Trec ho de Lua de Ogum, de Zeca Pagodinho e Ratinho)


O terreiro do Sibipiruna vai ficar mais bonito nesse domingo, pois irá homenagear um devoto de Ogum - guerreiro valente, que veio de Aruanda - e um versador de respeito: ZECA PAGODINHO. 
De nome Jessé Gomes da Silva Filho, nascido no Rio de Janeiro em 1959, Zeca Pagodinho (que de Pagodinho só tem o nome, porque faz samba, sim senhor, e mostra pra gente, com humildade, que pagode é festa, e que no pagode todos podem entrar), conquistou o público com o seu jeito simples e singelo de cantar e compor sambas.

O samba de Zeca veio de sua família, pois desde pequeno frequentou rodas de samba e de terreiro. Encontrou sua “segunda casa” – o Cacique de Ramos - que o acolheu e o ajudou a alavancar sua carreira. Vivendo a onda dos “pagodes” (encontros de sambistas) que surgiram no subúrbio do Rio de Janeiro nos anos 80, Zeca se destaca primeiramente como compositor, nos encontros na quadra do Cacique de Ramos. Juntamente com Almir Guineto, Jorge Aragão, Marquinhos Satã, Arlindo Cruz, Sombrinha, Jovelina Pérola Negra e Luiz Carlos da Vila, e tantos outros, nos pagodes sempre buscava o resgate dos sambas de partido alto, sambas de quadra e sambas de roda. Em 1985 a RGE lançou a coletânea "Raça Brasileira". Entre as canções de Zeca estavam "Mal de Amor", "Garrafeiro", "A Vaca" e "Bagaço da Laranja". A partir daí nunca mais parou de gravar. 

Com o sucesso alcançado, Zeca (assim como Bezerra da Silva), “empresta” sua popularidade como intérprete para gravar sambas de autores da comunidade, dando-lhes visibilidade, oportunidades de mercado e de profissionalização. Além disso, idealiza e viabiliza a abertura de uma escola de música em Xerém para a comunidade: “todo mundo deveria estudar música. Música é tudo. Quem tem música, tem boa cabeça”. 

Transitando entre o subúrbio do Rio e os Citibank e Credicard Hall, entre os amigos da roda de samba em Xerém e a elite consumidora de samba, Zeca sempre manteve sua humildade, apesar do sucesso. Fugindo ao estereótipo (e fato) do “sambista que morre pobre e sem reconhecimento”, conquistou fortuna e fama em todas as classes sociais, e ajudou a reavivar o nosso samba – que nunca, nunca morreu, mas que ficou muito tempo nas beiradas da música popular brasileira esperando o seu renascer. 

ZECA PAGODINHO, você que sempre está presente nessa roda aberta, hoje publicamos em letras garrafais: A HOMENAGEM É TODA SUA!!!

Brindemos, cantemos e bebemos, do jeito que você gosta. Tim-Tim!!!

Zeca é Pedro (comentários à música Lá Vai Marola)


Por ROBSON GABIONETA (Robinho)

Zeca Pagodinho é Pedro Batuque, é aquela que captou a tradição do samba e agora, seja no meio da praça ou em cima de um palco, na raça ou pela raça ele bota o povo para sambar, para brincar, para paquerar, para extravasar, para beber, para fumar. É assim, que Pedro Zeca se lembra de Angola ou da Guiné, é assim que mantem contato com seus ancestrais, é assim que Pedro Zeca se defende contra a falta de sentido do nosso tempo, é assim que Pedro Zeca vive. Por causa disso, ou só por causa disso seu batuque tem quilombola e candomblé, tem autorização para fazer as mulheres e os homens deitarem e rolarem.E  mais que autorização de Ogum, padroeiro de Zeca Pagodinho, Pedro Zeca é de todos os orixás, de todos os santos. Só assim ele pode cantar todas as vertentes de samba para todos os tipos de pessoas. Quando Zeca Pedro quer tocar, quer batucar, ele nos ensina, ele nos mostra suas origens, ele mostra seu presente, ele mostra o que quer, ele abre o coração, ele abre os braços nos chamando (como Zeca Pagodinho faz no min. 0:26) para tocar, para cantar, para festejar, para ser, para voltar a Angola e a Daomé.




Zeca Pagodinho é gente nosso, produto do mundo que vivemos, precisa se apresentar para viver, precisa representar o brasil fora do brasil, é nosso representante ideal. Mas reparem no min 0:21, quando Zeca diz que pedro, ele mesmo, bota na raça o povo para sambar, ele aponta o dedo para alguém como se dissesse 'eu boto o povo para sambar, mas to velho, está na hora de você colocar o povo para sambar, então, antes de fazer isso, venha comigo que eu te ensino, eu te mostro o que fiz e o que você precisa fazer, você deve fazer isso do teu jeito mas respeite a tradição da qual fazemos parte'.

O Projeto de Samba Sibipiruna também fará uma singela homenagem a dois sambistas que nos deixaram este mês, e foram fazer samba com os bambas lá no céu: Nelson Primo (componente da Velha Guarda da Camisa Verde e Branco) e Paquera (integrante do Samba da Vela).





quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sibipiruna - 06/07/2014 - Homenagem a Aniceto do Império


Aniceto do Império
"Partido-Alto é um caso sério" 




“O meu pai é rei das matas
Minha mãe senhora do rio
Uso tanga a noite
Sem camisa não sinto frio”


Aniceto Menezes e Silva Junior foi um dos maiores “partideiros” que a terra já viu. Trabalhou durante trinta anos como  arrumador no cais do Porto do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu em 1912. Liderou o sindicato dos arrumadores em diversas e exitosas greves, inclusive durante a greve histórica de 1946.

O Morro da Serrinha foi o lugar onde Aniceto fez sua morada musical, apesar de não residir fisicamente por lá. Ali no morro cantou o seu samba e firmou ponto no jongo de Tia Maria, ao lado de Mestre Fuleiro, Mano Elói, Sebastião Molequinho, Mano Décio da Viola, Mestre Silas de Oliveira e outros bambas mais, companheiros de fundação da tradicional Escola de Samba Império Serrano, que surgiu sob a égide da democracia em 1947.

Mestre Aniceto fez-se doutor na arte do Samba de Partido-Alto, modalidade de Samba em que um solista realiza versos de improviso entremeado por refrões cantados em coro. Para ele, a arte do Partido-Alto não se aprende, mas é um dom. Nos diversos modos diferentes de cantar e compor partido-alto, Aniceto foi dos melhores e mais versáteis. Diz a lenda que não havia, no Rio de Janeiro, maiores “partideiros” do que Aniceto do Império e Padeirinho da Mangueira. Em um encontro entre os dois, quem viu viu, quem ouviu ouviu e guardou na memória. Quem ficou, conta a história e há quem diga que um foi o melhor, há quem diga que foi o outro.

Ao longo da sua respeitável trajetória no samba, Aniceto destacou-se pela excelente oratória. O mestre valia-se sempre de palavras rebuscadas, tanto em suas composições de samba como em suas falas, discursos e entrevistas. Esta qualidade o levou ao cargo de orador da Escola de Samba Império Serrano, função que desempenhou com notável maestria e galhardia.

Na arte do Partido-Alto, Aniceto foi reverenciado por grandes sambistas como Mestre Candeia, João Nogueira, Martinho da Vila, Dona Ivone Lara e Roberto Ribeiro, nomes com os quais gravou e versou. Sua discografia traz dois discos solos voltados exclusivamente para a arte do Partido-Alto. Em 1977 lançou, acompanhado do saudoso Campolino, outro partideiro de primeira, o disco “O Partido-Alto de Aniceto e Campolino”. Em 1984 lançou o seu mais conhecido disco, “Partido Alto Nota 10”, que é uma verdadeira aula de partido-alto e conta com participações de Roberto Ribeiro, Dona Ivone Lara, João Nogueira, Clementina de Jesus, Martinho da Vila e Zezé Motta. Entre estes dois discos, Aniceto participou das coletâneas “Quem Samba Fica” e “Os Bambas do Partido-Alto” sempre gravando suas composições. Aniceto também participou do disco “Luz da Inspiração” de sua amigo Candeia, quando os dois cataram o partido “Maria Madalena da Portela”, composição de Aniceto. 

No próximo dia 06 de Julho, domingo, às 15h, é a Sibipiruna quem presta sua singela homenagem ao mestre Aniceto do Império. Com respeito, pedimos licença aos mais velhos, aos ancestrais, às Entidades e aos Orixás. E vamos de Partido-Alto. Axé!  
 
   


PS. Eduardo Coutinho entrevistou Aniceto do Império para o excelente filme “O Fio da Memória” em 1988, quando o mestre estava internado no hospital, cego e com diabetes. Esta é, talvez, uma das mais formidáveis entrevistas já realizadas em um documentário brasileiro. Com sua oratória apurada, há na entrevista um momento em que Aniceto praticamente inverte a situação e passa a entrevistar Coutinho, deixando o hábil entrevistador em apuros, sob os olhares apaixonados e as gargalhadas da enfermeira do hospital. As respostas do sambistas são auspiciosas e inteligentes. Em determinada altura da entrevista, Coutinho pergunta ao velho Aniceto:

Coutinho: O senhor esta com diabetes?
Aniceto: Graças a Deus eu sou diabético.
Coutinho: Porque Graças a Deus?
Aniceto: Porque Deus quer assim e eu devo aceitar tudo aquilo que ele manda. Ele sabe o que faz e eu não sei o que quero.

Confira a entrevista!

Basta clicar no link do Youtube abaixo e seguir para o minuto 1:01:18 do filme, quando começa a segunda parte, justamente sobre Aniceto.




sexta-feira, 30 de maio de 2014

Seja Sombrinha Também !!!!!




Por Claudinei Calixto (o Tio Ney)


É mês junho, menos raios solares incidem na frondosa copa da amada Sibipiruna; outrora seu processo de alimentação privilegiado provocava uma sombra escura e envolvente aos sambistas ávidos por libertar da alma poesia e amor, porém, neste mês invernal, o que teremos será uma Sombrinha suave, mensageira da leveza e da cura, elementos mais do que necessários para todos aqueles que batalham.
A Sombrinha da Sibipiruna, este mês, servirá para nos cobrir com a eterna luz que emana do samba de Montgomery Ferreira Nunis, nascido em 30 de agosto de 1959, na ex-capitania hereditária de São Vicente, o nosso querido e mais do que familiar Sombrinha.
Todavia, o caráter hereditário na vida de Sombrinha não reside apenas nas terras primeiramente colonizadas nas quais nasceu, nem em seu musical código genético. Na verdade, seu pai realizava em casa inúmeras reuniões com os bambas da baixada santista, organizando rodas de choro e samba, incentivando e educando musicalmente todos aqueles que estavam ao seu redor. O que provavelmente fez o pequeno Monty criar desde inocente criança e como que por osmose, um vínculo com a harmonia e beleza, ligação que se estreitaria ainda mais após ganhar do pai,na fina flor da adolescência, seu primeiro violão sete cordas. Não é a toa que define a si próprio como “Apreciador nato de choro”.
A precocidade de seu talento logo transformaria a fecunda, mas provinciana São Vicente num lugar limitado para a franca expansão de seu samba. É então, como que guiado pelos “olhos do coração”, que se dirige aos dezoito anos, para o Rio de Janeiro, o seio do samba, levando consigo seu violão sete cordas e uma gravação profissional com Baden Powell.
Na cidade maravilhosa, Sombrinha que ganhou esse apelido em virtude de seu irmão “O Sombra”, sente-se ainda mais que à vontade. Torna-se mangueirense por opção, mas caciqueano de coração, não escondendo de ninguém que sua verdadeira escola de samba é o Cacique de Ramos. Será justamente pajelando e enfeitiçando todos os caciques, através de suas lindas composições, que Sombrinha fundará em 1.980, juntamente com Jorge Aragão, Bira, Ubirany, Neoci, Almir Guinetto e Sereno, O Grupo Fundo de Quintal, onde permaneceria por 14 anos. Dois anos após a fundação do grupo passa a ser integrante o homem com quem formaria uma das maiores duplas da música popular brasileira, Arlindo Cruz.
A criação do grupo foi parte integrante de seu gênio criador, pois o processo de criação possui para ele importância radical no ato de Ser humano, a criação seria como que a luz da verdadeira transformação do homem e, por extensão, da própria arte musical. No entanto, não nega de forma alguma que se encanta pela execução da boa música e sua reprodução, apenas reconhece que é a criação de algo novo que protagoniza as potencialidades do gênero humano. Não é por acaso que ganha por diversas vezes o prêmio Sharp como compositor, sendo três delas consecutivas, pois trata-se de um exímio inovador da arte.
Embora seja inegável a importância da música em sua vida, Sombrinha a considera apenas uma parte dela e não o todo. Dedica-se aos familiares e amigos, por vezes passa meses sem tocar nenhum instrumento, de fato, parece que a música o segue naturalmente de forma paralela pela mesma estrada existencial.
 Considera a música Seja Sambista Também, que compôs com o eterno parceiro Arlindo Cruz, um verdadeiro hino do samba. Quiçá sigamos o conselho de Sombrinha: Oxalá Sejamos todos sambistas também!

Fonte:

Entrevista com Sombrinha- Miscelânea para o programa Miscelânea: https://www.youtube.com/watch?v=cY4zxi9QWm8
Entrevista de Arlindo Cruz e Sombrinha no Programa do Jô parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=6CnYVohEZRA
Entrevista de Arlindo Cruz e Sombrinha no Programa do Jô parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=bpflrrP4WQE
Trecho da entrevista de Sombrinha para o programa Samba na Gamboa: https://www.youtube.com/watch?v=WGvwQ9fltAM
Programa Ensaio Cultura com Arlindo Cruz e Sombrinha: http://www.youtube.com/watch?v=AaYyVFTxuls


Por fim, o projeto de Samba Sibipiruna fará uma singela homenagem a Jair Rodrigues (através de meio de um minuto de silêncio) por conta do seu falecimento.


quarta-feira, 30 de abril de 2014

O Teu Nome NÃO Caiu no Esquecimento !!!!!




Paulo Benjamim de Oliveira (1901 – 1949), popularmente conhecido como Paulo da Portela, tem uma importância para o samba que perpassa seu pertencimento à agremiação carnavalesca da qual fundou juntamente com Antônio Caetano e Antônio Rufino.

Nascido no centro da cidade, mas “alijado” com sua família para região suburbana de Oswaldo Cruz em função da reforma urbana especulativa e elitista de Pereira Passos (qualquer semelhança não é mera coincidência), Paulo presenciou, naquele bairro pacato, de características interioranas, diversas formas de manifestações afro-culturais, formando-se conscientemente no padrão de sociabilidade traçado pelo seu povo.

Influenciado pelas rodas de samba e batucadas que aconteciam as regiões mais centrais do Rio de Janeiro, Paulo decidiu criar em Oswaldo Cruz, uma escola de samba, tal como o “Deixa Falar” do Estácio, que posteriormente passou a ser chamada de GRES Portela.             

Numa época em que a discriminação ao negro suburbano e à sua cultura era generalizada e violenta (qualquer semelhança também não é mera coincidência), a fundação de uma escola de samba no subúrbio representava uma tentativa consciente de contrapor a cultura de seu povo ao preconceito estabelecido.

Paulo carregava o sonho de ver o negro e o suburbano inserido na sociedade de classes. Queria que esta mesma sociedade os visse não como marginais, mas como homens e mulheres dignos, do ponto de vista de sua cultura e de seu comportamento.

Por estes motivos sua conduta perpassou sua agremiação. Exigia do sambista e do malandro postura adequada, ao mesmo tempo que cobrava da sociedade e do poder público a valorização da cultura popular. Figura carismática, porém de postura firme, Paulo foi daqueles sambista que não alienou a arte do samba do contexto social e econômico precário em que ele surgiu. Ele politizou portanto (para além do partidarismo formal, do qual também fazia parte) o debate sobre a cultura popular, o contexto social e seus realizadores (os artistas, os sambistas e o subúrbio).

Desde cedo Paulo foi reconhecido pelos grandes sambista da época, tal como Cartola, um pioneiro. Vejo Paulo da Portela como o Primeiro Militante do Samba, o primeiro que vestiu a camisa de algo que está para além das disputas carnavalescas, para além dos requisitos financeiros necessários à sobrevivência de qualquer músico (independentemente de ser popular, profissional ou amador). Vestiu a camisa de uma causa, de um povo, de uma cultura, e pagou por isso.

Relegado ao ostracismo, indiretamente expulso de sua escola, Paulo da Portela viveu os últimos anos de sua vida de forma melancólica, completamente esquecido. Mas sua luta não foi em vão. Muitos Quilombos do Samba continuam se erguendo diariamente (e muitos não relacionados ao samba também, influenciados direta ou indiretamente por sua postura).

O teu legado ficou para a história e o teu nome NÃO caiu no esquecimento !!!!!

E é com muita honra que o Projeto de Samba Sibipiruna fará uma singela homenagem a este grande homem neste domingo, dia 04/05, a partir das 15 horas, no Bar Esquina 108 (Rua Julia Leite de Barros, 108). 

Links e fontes:

Paulo da Portela: Um Herói Civilizador (Edson Farias)
file:///C:/Temp/RCRH-2006-237.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_da_Portela

Documentário:
https://www.youtube.com/watch?v=nkTACE401wo

segunda-feira, 31 de março de 2014

É proibido sonhar? Então me deixe o direito de sambar !!!!





“ Ninguém sabe quem sou, também já não sei quem sou
Eu bem sei que o sofrimento de mim até se cansou
Na imitação da vida, ninguém vai me superar...
...Dona Solução, reveja meu caso com atenção...”
                                                                                                                               Imitação - Batatinha

por Rafael Yasuda

Neste mês o homenageado é gente boa. Temos a alegria de cantar as composições de Oscar da penha, conhecido como Batatinha. Nascido na cidade de Salvador, começou a compor e a cantar aos 15 anos quando ouviu pela primeira vez um samba do compositor carioca Vassourinha. No início da década de 1940, trabalhou como office-boy do Diário de Notícias. Nessa época, o jornalista e compositor Antônio Maria foi a Salvador para dirigir a Rádio Sociedade da Bahia. Batatinha procurou-o e apresentou-lhe seu primeiro samba, intitulado "Inventor do trabalho". Conhecido como Vassourinha, devido à influência do sambista carioca, teve o apelido trocado pelo próprio Antônio Maria, na apresentação de um programa de rádio, para Batatinha - gíria que na época significava "gente boa".

Estudou música com o maestro Santo Amaro de 1946 a 1947, mas gostava de batucar em caixa de fósforos, que usava também para compor. Certa vez o compositor e amigo Riachão, assim o definiu: "Uma cabeça cheia de cabelos brancos e cada fio uma nota musical". Com Diplomacia (1997) revelando o Samba da Bahia (1975) compondo e tecendo a Toalha da Saudade (1976), Batatinha e Companhia Limitada (1969) mostrou que temos em Batatinha, 50 anos de samba (1993) e muito mais…

 Suas músicas foram gravadas por muitos artistas como Chico Buarque, Jamelão,Caetano Veloso,Gilberto Gil entre outros. Sobre Batatinha escreveu Maria Bethânia: "Gosto de Batatinha, como gosto da luz da lua, do som do tamborim, do samba em tom menor, das coisas tristes e simples. Batatinha pra mim, é uma pessoa rara, um artista". Paulinho da Viola, também escreveu sobre o compositor no encarte da segunda tiragem, em 1975, do LP "Samba da Bahia", do qual destaco o trecho: "Olá Batata, qual a novidade? E Batatinha, um simples cidadão de Salvador, gráfico, casado, pai de muitos filhos, alisa a cabeça branca e sorri. Apanha a caixa de fósforos e desfia seu rosário - é assim que se diz no samba - para a felicidade daqueles que tiveram o privilégio de estar perto dele e conhecê-lo. Paulinho ainda o coloca ao lado de  Nélson Cavaquinho e Cartola, no nível da poesia popular mais pura. “Digno representante do samba mais verdadeiro que conheço".

Batatinha também compôs o samba “ Bossa e capoeira “ e foi o primeiro a introduzir o tema da capoeira na música popular. Depois dele, esse tema foi imortalizado por outros nomes (mais conhecidos) que ficaram com todo reconhecimento. Tendo consciência do ineditismo do trabalho que empreitava Batatinha diz: “Preciso falar sobre isso...quero ser reconhecido como pioneiro”.¹

O Projeto de Samba Sibipiruna tem o imenso prazer de homenagear esse poeta do samba Bahiano.Reconhecido e colocado num patamar superior por inúmeros bambas que o projeto já homenageou em outras edições ,tais como, Paulinho da Viola que coloca a obra de Batatinha ao lado de Cartola e Nelson Cavaquinho. Batatinha,antes de tudo,um pai de família de muitos filhos e trabalhador que batalhou por toda sua vida e morreu em 1997 sem receber o reconhecimento merecido por seu trabalho como poeta sambista. Então no dia 06 de abril  às 15h30 o Sibipiruna vai homenagear o poeta bahiano cantando alguns de seus sambas, porque como ele dizia:

“ É proibido sonhar
então me deixe o direito de sambar... “
Direito de Sambar - Batatinha


Fontes:
¹ Trecho retirado da coleção MPB “ sambas da bahia “ na faixa “bossa e capoeira “ onde há depoimentos de Batatinha.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Sibipiruna de Carnaval



 E VAMOS DE MARCHINHA, MÚSICA DE CARNAVAL!

Por Carla Vizeu

“Alalaô, ô, ô,ô, ô, ô,ô!
Mas que calor, ô,ô, ô,ô,ô,ô!
Neste domingo eu vou pra Sibipiruna
Cantar umas marchinhas divertidas com a turma!”



No primeiro domingo de março é carnaval e a roda mais querida entra no reinado de Momo fazendo uma folia com marchinhas! , Teremos as marchinhas como homenageadas na edição especial de carnaval, mais curta, que terminará “emendada” com a concentração do Bloco Cultural União Altaneira.
Falamos bastante de samba, mas o que podemos falar das marchinhas?
A marchinha é um gênero musical de compasso binário, raramente quaternário, e com o primeiro tempo fortemente acentuado. Gênero que está intimamente relacionado ao carnaval. Tanto que contam os registros históricos que a primeira música feita especificamente pro carnaval foi uma marcha. Trata-se de Abre-alas, da famosa pianista e compositora Chiquinha Gonzaga, feita para o cortejo do Rancho Rosa de Ouro, que com ela venceu o carnaval de 1899. E nós a ouvimos todo carnaval, até hoje!
José Ramos Tinhorão disse que “os gêneros de música urbana reconhecidos como mais autenticamente cariocas – a marcha e o samba – surgiram da necessidade de um ritmo para a desordem do carnaval.” Ou seja, para acompanhar as mudanças que ocorriam no carnaval, como as que os Ranchos fizeram quando passaram a adotar uma formação de procissão em seu desfile, foram criados ritmos que fossem mais adequados à caminhada dos foliões.
Segundo o Dicionário Musical Brasileiro, "No Brasil a marcha popularizou-se nos blocos carnavalescos como marcha-rancho e marcha de salão e segue a fórmula introdução instrumental e estrofe-refrão.” Apesar de datar de fins do século XIX, a marcha se consolidou enquanto gênero musical (e carnavalesco) em meados da década de 1920, desenvolvendo-se como gênero característico da classe média carioca. Sofreu em seu ritmo influências externas que vão desde o one-step ao charleston norte americano, passando pela marcha portuguesa, além de incorporar boa parte do lirismo e do sentimentalismo de nossa modinha. Jocosas e espirituosas, com sátiras políticas e sociais, as marchinhas foram se popularizando mais e mais.
Em 1930, a Casa Edison organizou seu primeiro concurso de músicas carnavalescas. Venceu Ary Barroso, com a marcha "Dá nela", que o lançaria no cenário nacional. A partir de 1932, a prefeitura do Rio de Janeiro instituiu um concurso oficial de músicas para o carnaval, e a marchinha viu sua popularidade crescer. Na década de 1930, foram se tornando mais populares, no que ajudava a divulgação feita pelo rádio e pelo cinema. Alguns autores destacaram-se como compositores de marchinhas, tais como Lamartine Babo, Nássara, João de Barro, o Braguinha, Wilson Batista, Haroldo Lobo e Alberto Ribeiro. O mesmo se deu com diversos cantores e cantoras que se consagraram, interpretando marchas carnavalescas, como foi o caso de Carmen Miranda, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Linda Batista, Emilinha Borba, Marlene, Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas e muitos outros.
Entre as décadas de 1930 e 1950, muitas marchinhas tiveram destaque: Taí, de Joubert de Carvalho (e primeiro grande sucesso de Carmen Miranda); Mamãe eu quero, de Jararaca e Vicente Paiva; O teu cabelo não nega, dos Irmãos Valença e Lamartine Babo; Linda morena, de Lamartine Babo; A jardineira, de Benedito Lacerda e Humberto Porto; Linda lourinha, de Braguinha (anos 30); Ala-la-ô, de Nássara e Haroldo Lobo; Aurora, de Mário Lago e Roberto Roberti; Eu brinco, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz (anos 40); Touradas em Madri, Chiquita bacana e Yes, nós temos banana, de Braguinha e João de Barro; Tem nego bebo aí, de Mirabeau e Airton Amorim; Cachaça, de Mirabeau, Lúcio de Castro e Héber Lobato; Saca-rolha, de Zé da Zilda, Zilda do Zé e Waldir Machado; Sassaricando, de Luis Antônio, Jota Junior e Oldemar Magalhães (anos 50). Quem nunca ouviu sequer uma destas?... Sinal de que seguiram cantadas pelos foliões ao longo de décadas...
As décadas de 1960, 70 foram uma fase de declínio das marchinhas carnavalescas, muito embora tenhamos muitos clássicos desta época como: Me dá um dinheiro aí, de Homero Ferreira, Glauco Ferreira e Ivan Ferreira; Olha a cabeleira do Zezé, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal; Mulata bossa nova, de João Roberto Kelly; De marré marré, de Raul Sampaio, Índio quer apito, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, A marcha do remador, de Antônio Almeida e Oldemar Magalhães, Máscara negra, de Zé Kéti e Pereira Matos (anos 60); A pipa do vovô, de Ruth Amaral, e Maria Sapatão lançada pelo comunicador Chacrinha.
É que o carnaval de rua também entrara em declínio na década de 1970, e isto prejudicou imensamente a marchinha. Mesmo assim, ela apareceu uma vez ou outra, a partir de alguns concursos carnavalescos, ou então, através de regravações como foi o caso de "Festa do interior", de Braguinha e Alberto Ribeiro, gravada inicialmente por Carmen Miranda em 1937, e relançada com grande êxito por Gal Costa em 1983.
Ao mesmo tempo em que houve um declínio da marchinha carnavalesca, também pode-se perceber a influência deste gênero sobre vários compositores “não-carnavalescos” como João Bosco (Rancho da Goiabada) e Chico Buarque (Noite dos mascarados, Boi Voador, Rio 42) ou no repertório de  cantoras como Clara Nunes (Estrela Guia, de Sivuca e Paulo César Pinheiro).
O carnaval de rua no Rio de Janeiro retoma sua vitalidade no começo do século atual e com isso houve chance pra revitalização das marchinhas também, através de concursos como o da Fundição Progresso, que em 2006  instituiu o Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas. Isto alimentou a produção de novas marchinhas e ano a ano cresceu o número de inscritos, chegando a 947 em 2011 no concurso citado. É interessante perceber como pouco mudou o gênero no aspecto musical, se comparado a outro gênero carnavalesco, como o samba-enredo, por exemplo...
As marchinhas seguem eternas em nossos corações! É um repertório querido por quase todo folião... E nosso próximo encontro é dia 02 de março, às 15h, para relembrar as marchinhas carnavalescas à sombra da Sibipiruna, animando o domingo de carnaval!

Fonte:
1- http://www.dicionariompb.com.br/marcha-carnavalesca/dados-artisticos
2- Pequena história da Música Popular  - José Ramos Tinhorão (Ed. Vozes, 1974)