sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Mussum, Sócrates e os Originais do Samba


A primeira imagem que temos quando lembramos de Mussum, é de um dos integrantes mais engraçados do quarteto de comediantes que alegrava a nossa infância todo o final de domingo com peripécias e picardias, os Trapalhões. Poucos sabem, no entanto, que esse integrante negro, que representava a síntese irônica da malandragem suburbana, que tinha um linguajar próprio e adorava um “mé”, foi um dos primeiros integrantes de um dos grupos de samba mais famosos da década de 1970 e 1980, os “Originais do Samba”.

Nascido em 1941, no Morro da Cachoeirinha (Zona Norte do Rio de Janeiro), Antônio Carlos Bernardes Gomes (Mussum), antes de ser reconhecido artisticamente, foi ajustador mecânico, trabalhando por oito anos na Força Aérea Brasileira. Neste período aproveitou para participar da Caravana Cultural da Música de Carlos Machado.



Por sua vez, história do grupo “Os Originais do Samba” (anteriormente “Os Sete Modernos do Samba”) tem como origem a agregação de diversos ritmistas oriundos de diversas escolas de samba (inclusive Mussum). Depois de passar um período de ostracismo no Rio de Janeiro e no México, “Os Originais do Samba” passou a deslanchar nos últimos anos da década de 1960 em São Paulo, caracterizados pelo estilo particular de canto coral, vestimentas e uma leve dose de ironia em suas canções e comportamentos. Em 1968 acompanharam Elis Regina na apresentação da música vencedora da I Bienal do Samba, “Lapinha”, de Baden Powell e P.C. Pinheiro. Em 1969 o grupo “estourou” nacionalmente com a música “Cadê Teresa”, de Jorge Ben, tornando-se, a partir de então, um dos principais grupos de samba do país.

O comportamento irônico e engraçado esbanjado nas falas e atitudes de Mussum (apelido dado por Grande Otelo) atraiu a atenção de Wilton Franco, convidando-o a participar do grupo humorístico os Trapalhões ainda em 1969. Mussum dividiu a atividade de músico e humorista até o grupo começar a se apresentar na Rede Globo, ano em que deixou os “Originais do Samba”, seguindo uma carreira musical solo, com três álbuns gravados (“Água Benta” de 1978; “Descobrimento do Brasil”, 1980; e “Because Forever” de 1986).



Já o grupo “Os Originais do Samba” (grupo existente até os dias atuais) passou por diversas reformulações, tornando-se, no entanto, uma profunda referência estética dentro do mundo do samba, seja do ponto de vista rítmico, seja do ponto de melódico. Muitos grupos de samba-rock se inspiraram na estrutura e na dinâmica musical do grupo.

É importante frisar que dos integrantes da primeira formação (Bigode, Rubão, Lelei, Mussum, Chiquinho e Bidi) apenas o Bigode está vivo, participando ativamente das apresentações do grupo.
 Mussum, infelizmente, partiu muito cedo, em julho de 1994, aos 53 anos, deixando um legado artístico e cultural sui generis, constantemente relembrado e revivido pelas velhas e novas gerações.

Dentre outros ex-integrantes, queremos chamar a atenção especial para Francisco de Assis Silva Pereira, Sócrates, originário da segunda formação do grupo. Sócrates foi um grande sambista, além de violonista e compositor. Nascido em 1951, seu talento lhe rendeu mais de 500 composições e 200 canções gravadas por diversos artistas tais como Mato Grosso e Mathias, Paulo Sérgio, Carmem Silva, Ângelo Máximo, Nilton César, Os Originais do Samba, e outros, tendo um disco gravado em 1978, conhecido como “O Guitarreiro”.



Sócrates permaneceu no grupo “Os Originais do Samba” de 1993 a 2000, quando deixou o grupo por problemas de saúde. Ele também emplacou alguns sucessos tais como “Vamos decidir”, “Deixa eu poder te amar”, “Valeu”, “De corpo e alma”, “Indignado”. Hoje em dia, assim como tantos outros sambista e artistas brasileiros, Sócrates busca reativar a sua carreira musical através do reconhecimento do seu trabalho pelas diversas comunidades ao redor do Brasil.

Nada mais justo que o Projeto de Samba Sibipiruna homenageie todos aqueles que ajudaram a construir um dos grupos mais importantes do Brasil, em especial Mussum e Sócrates.

É com muito orgulho e respeito que convidamos a todos a presenciar a participação de Sócrates em nossa humilde roda. O convite está feito! Dia 01/12/2013, véspera do Dia Nacional do Samba, no Bar Esquina 108 (Rua Julia Leite de Barros, 108), a partir das 15 horas.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Carta a Vinícius 2013

Por Thiago 'Peixe' Franco



Poeta meu Poeta Camarada,
 Poeta da Pesada do Pagode e do Perdão

Esse ano é de muitas homenagens e comemorações ao centenário do teu nascimento. Não que sejamos muito chegados nesses trem aí de protocolos, comendas, caviares e champagnes, mas já que é pra cantarolar umas canções e beber, não poderíamos estar de fora, né não?

Dentre as inumeráveis obras-primas que nos deixaste, escolhemos privilegiar as que imaginamos que combinam mais com o nosso sol escaldante de primavera-verão e com o tempero quente da Bahia que te encantaste com seus sabores e mitos. Enfim, umas musiquinhas que combinam mais com a batucada de nossa querida roda.

Lembraremos, claro, da bossa-nova e dos choros de flauta de Pixinguinha... Mas por falar em saudade, deixaremos aqueles versos dos bares de então – como que feitos com a própria lua – para nossas serestas pelas madrugadas adentro [Alô, povo Sibipirunense: assumamos esse agradável compromisso?!].

Nesse mais que perfeito domingo (que também é o dia do presente, por que não?) em que o teu Botafogo encara o calor de Goiânia comandado por um negro holandês (quem diria?), aqui nos cafundós do interiôrr de São Paulo – pra mor de tu morder a língua mais uma vez – estaremos reunidos de braços abertos em baixo de uma frondosa árvore (como aquelas que já moraram em nossos quintais) para beber, cantar e batucar a tua poesia que nos deu e nos dá tantos e tantos frutos.

Sem protocolos, sem comendas, sem caviar, sem champagne, nem gravata!

À benção, Poetinha, tu que também choraste em teus versos muitas das nossas dores de amor, Saravá!



Carta a Vinícius 2013

Por Thiago 'Peixe' Franco

Poeta meu Poeta Camarada,
 Poeta da Pesada do Pagode e do Perdão



Esse ano é de muitas homenagens e comemorações ao centenário do teu nascimento. Não que sejamos muito chegados nesses trem aí de protocolos, comendas, caviares e champagnes, mas já que é pra cantarolar umas canções e beber, não poderíamos estar de fora, né não?

Dentre as inumeráveis obras-primas que nos deixaste, escolhemos privilegiar as que imaginamos que combinam mais com o nosso sol escaldante de primavera-verão e com o tempero quente da Bahia que te encantaste com seus sabores e mitos. Enfim, umas musiquinhas que combinam mais com a batucada de nossa querida roda.

Lembraremos, claro, da bossa-nova e dos choros de flauta de Pixinguinha... Mas por falar em saudade, deixaremos aqueles versos dos bares de então – como que feitos com a própria lua – para nossas serestas pelas madrugadas adentro [Alô, povo Sibipirunense: assumamos esse agradável compromisso?!].

Nesse mais que perfeito domingo (que também é o dia do presente, por que não?) em que o teu Botafogo encara o calor de Goiânia comandado por um negro holandês (quem diria?), aqui nos cafundós do interiôrr de São Paulo – pra mor de tu morder a língua mais uma vez – estaremos reunidos de braços abertos em baixo de uma frondosa árvore (como aquelas que já moraram em nossos quintais) para beber, cantar e batucar a tua poesia que nos deu e nos dá tantos e tantos frutos.

Sem protocolos, sem comendas, sem caviar, sem champagne, nem gravata!


À benção, Poetinha, tu que também choraste em teus versos muitas das nossas dores de amor, Saravá!

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Dois Anos de Vida e Amizade !!!



Alguns não sabem, mas a roda de samba que acontece todo o primeiro domingo do mês no Esquina 108 é mais antiga do que o próprio Projeto de Samba Sibipiruna. Esta roda surgiu de um grupo de amigos que, em função do tempo e da distância, não tinham mais condições de se encontrarem para, através do samba, celebrarem as duas coisas mais importantes no mundo: a VIDA e a AMIZADE.
Tratava-se da necessidade de se criar no bairro onde a morávamos um espaço autêntico, alegre, aberto e de descontração para reencontrar e fortalecer os laços de camaradagem.

Neste sentido a roda de samba começou com a tentativa de agregar diversos grupos, personalidades e movimentos de samba da Região. Poderia citar como exemplo algumas pessoas Rafael Inácio Guilherme Fidelis (Casa Caiada), Ronaldo Gomes (Grupo Sem Tempo), Helder Bitencourt (Sinuca de Bico), Trovão Sambista, Família Pereira, Kurts Campos, Ramon, Chico Santana, Samuel Bussunda, Maíra Guedes, Diogo Nazareth, André “Tom”, Flávio Azevedo, André Lopes, Fernando “Sousa”, e alguns grupos e movimentos de samba tais como Saudosa Clotilde, Bateria Alcalina, União Altaneira, Pagode do Sousa, e assim por diante.

E como é de costume, alguns chegaram, outros se afastaram, alguns gostaram da ideia, outros teceram reticências. Tudo muito normal e tranquilo. Mas independentemente disso, o fato é que a roda de samba se tornou um projeto de samba e este projeto foi crescendo paulatinamente, a cada mês. Mais pessoas foram chegando, se enturmando e se apropriando da roda, integrando-se e incorporando-se a este núcleo pretérito de amigos e companheiros do samba e de vida.
Pois bem, o fato inusitado é que ao invés da roda se tornar um espaço de reencontro apenas, ela se tornou um momento para a constituição de novas amizades.

O Projeto de Samba Sibipiruna propicia todo o primeiro domingo de cada mês a possibilidade de novos encontros, novas relações e novas amizades. Muitos que na roda chegaram, não saíram mais, tornando-se grandes amigos, ajudando a construir todo o mês a nossa roda. Alguns exemplos são bem elucidativos: Maíra Sampaio, Douglas Garzo, Guilherme Lamas, Carla Vizeu, Rafael Yasuda, Thiago “Peixe”, Lilian, Flávia, Warner (Booke), Carlos Eduardo, Anisha, Alessandro, João Carlos Rocha, Simone Silva, Franco Villalta, Camila, Patríssia Kasai, Tatiana Rocha, e tantos outros que me fogem à memória.

Acredito, portanto, que a amizade e o espaço aberto e participativo de encontros e reencontros de pessoas queridas através do samba, uma das formas autênticas e tradicionais de sociabilidade em nosso país, seja a raiz mais profundo daquilo que passamos a chamar de Projeto de Samba Sibipiruna. Não que todos se amem, ou que não haja problemas em nosso projeto. Não é esta a questão. O ponto é que estas características são elos norteadores das nossa roda, mesmo que não tenhamos consciência plena disso. Pois é o que dá razão à sua existência através da nossa vontade de estarmos presentes naquela humilde roda.

Que este segundo aniversário do Projeto de Samba Sibipiruna seja um dia especial, que celebremos a amizade, agreguemos nossos semelhantes, superemos qualquer forma de segregação e opressão, conforme escrito na faixa exposta pelo primeiro casal “formado” na nossa humilde roda: Maíra e Douglas.


O Convite está feito, dia 06 de outubro, no bar Esquina 108, a partir das 15 horas, uma festa com direto a sambas autorais, capoeira e uma roda de samba super empolgante.  

sábado, 24 de agosto de 2013

Um salve ao ¨Moleque Atrevido¨: poesia, pagode e amor!


^^ E assim se fez (re)conhecido, por entre cabrochas e bambas, batucadas e palhetadas, nosso muito estimado ¨Moleque Atrevido¨, compositor sofisticado e de irrestrita sensibilidade e profundidade. Sua graça despontou na cena do samba quando gravado por ninguém menos que Elza Soares em 1976, catapultando aos nossos ouvidos sua singular veia poética e musical: surge, pois, nosso arrojado ¨Malandro¨. Berço do carnaval carioca, comentarista dos desfiles das escolas cariocas, o barbudo sorridente de ¨Cabelo Pixaim¨, difícil de se aturar, tivera seu primeiro álbum solo gravado em 1981 que leva como título seu próprio nome, alcançando um pouco mais de 20 discos.
Ex-integrante do Cacique de Ramos, estabelecera diversas parcerias com outros membros – deste famoso bloco carnavalesco que desfilava na Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro – e hábeis partideiros das festivas rodas de samba ocorridas às quartas-feiras. Dentre outros, Almir Guineto, Bira Presidente, Neoci (filho do célebre compositor João da Baiana), Sereno, Sombrinha e Ubirany.
Em poucos anos, a nova batucada decorrente das rodas de samba caciqueanas em que Jorge Aragão estivera presente incorporou ingredientes temperados pela ausência de pré-conceitos comumente tradicionalistas; invenções de instrumentos percussivos inusitados (o banjo, por Almir Guineto, o tantã, por Sereno e o repique de mão pelo Ubirany) trouxeram uma nova roupagem estética às rodas de samba, abrindo terreno para o batuque brasileiro se comunicar, o pagode popular se firmar e recriar sua voz ativa, expressão poética espontânea e oriunda ¨Do Fundo do Nosso Quintal¨. E a tradição se refez, renovou sua ¨Coisa de Pele¨, propôs o diferente, alteridade a ser respeitada por quem chegou primeiro, inexorável correnteza que transcende e chacoalha as mono-definições da radicular ¨Identidade¨, fincada em estandartes dominantes da pureza do samba, certo ¨Abuso de Poder¨, podões dos corolários positivamente subversivos a certa ordem.
Assim, as canções “jorgeanas” brilharam, alçaram um destemido ¨Vôo de Paz¨ e conquistaram um inegável ¨Alvarᨠartístico, penetrando na vida musical de todos admiradores não discriminadores de samba no pagode ou de pagode com samba (ou será ao contrário?). Zeca Pagodinho, outra cria do Cacique, Beth Carvalho, Emílio Santiago, Alcione, Martinho da Vila flertaram, cortejaram e se entregaram a uma espécie de ¨Amor à Primeira Vista¨, singelo ¨Feitio de Paixão¨ com nosso homenageado do mês, gravando e regravando suas músicas.
¨De Sampa a São Luís¨, ¨De Paris a Irajá¨, rogos de preces ao poder de ¨Sanguiné¨, advento de ¨Novos Tempos¨, Jorge Aragão, um também ¨Adepto do Samba Sincopado¨, proporcionou deleitosas noites de ¨Reflexão¨ sobre ¨Guerra e Paz¨, sobre os meandros imperceptíveis e espaços irreconhecíveis no âmago dos corações: os sempre almejados e desbravados ¨Mistérios do Peito¨; desfibrilou a ¨História do Brasil¨, recitou o ¨Amor dos Deuses¨ ao pé do ouvido dos ¨Amigos... Amantes¨, estes ainda ¨Ontem¨ rediscutindo sua ¨Doce Amizade¨; quiçá afogando a ¨Sede¨ de paixões sobrescritas num simples ¨Papel de Pão¨, confessando por entre lágrimas e juras sua incorruptível ¨Ponta de Dor¨, embargando a voz e desejando obter, por intermédio divino, um ¨Resto de Esperança”. E ao longe, baixinho, ouvidos apaixonados buscando soluções e refletindo as consequências das ¨Loucuras de uma Paixão¨, na frequência mais antiga da ¨Faixa Nobre¨ de um ¨Tape Deck¨. Sonhos de que um dia seja remendada a ¨Colcha de Algodão¨, decifrado o ¨Teor Invendável¨ da apoteose daquele sempre inédito e misterioso ¨Enredo do Meu Samba¨.
Sua tonitruante voz reverberou quem sabe até mesmo no ¨Quintal do Céu”, deixou espectadores celestes ¨Chorando Estrelas” e amargando o fel de uma disparatada e ¨Fria Lição¨. Aquela desastrada e melancólica ¨Borboleta Cega¨, confusa sobre a ¨Tendência¨ de tal ou qual vento que lhe vem arrebatar o caminho, enganada pela ¨Quinta Promessa¨ da ¨Raiz e Flor¨. ¨Logo Agora¨? Quando mais se pensou que seríamos ¨Eu e Você Sempre¨?
Enfim, homenagem é homenagem, feita com amor e respeito embebidos daquela alegria comumente encontrada em rodas de samba. A ti, Jorge Aragão, as nossas energias e nosso axé! O senhor já foi, ¨Já é” e sempre será um fantástico compositor, e, em sensata conformidade com o movimento transformador da história, que continue sempre inovador e agregador do samba pagodeado ou pagode sambeado, o qual certamente não findou e não ¨Termina Aqui¨.^^

                                                                                                Por Fernando Roberti (Broke)

terça-feira, 16 de julho de 2013

Você já foi à Bahia? Não??? Então vá!

Eu tinha não mais que dez anos de idade quando escutei um vinil do Chico Buarque chamado “Paratodos”. A música título caminhava pelas suas principais referências musicais, citando em primeiro lugar ‘Antônio Brasileiro’ (Jobim, para os mais íntimos), em segundo, Dorival Caymmi: “contra fel, moléstia, crime, use Dorival Caymmi”. Minha mãe, explicava a importância de cada um dos nomes citados na canção e, anos depois, mostrou-me um dvd em que o mesmo Chico falava da importância de Caymmi para a música brasileira, dizendo que ele fazia uma música que, de tão popular, era quase de domínio público. Difícil de imitar. Numa época em que a imitação tem cada vez mais espaço, Caymmi é cada vez mais raro e autêntico.
Dorival Caymmi por Bob Wolfenson (1995)
Nasceu, cresceu e cantou a Bahia como poucos, muito embora tenha vivido no Rio e em São Paulo também. Cantor, compositor, violonista, pianista, bandolinista, também foi pintor talentoso, retratando em verso e tinta a ginga da capoeira, Samba, candomblé e das ondas do mar. E como é doce morrer no mar, as ondas de Copacabana testemunharam os últimos suspiros de Caymmi, aos 16 dias do agosto de 2008. Cinco anos depois de sua partida, o Projeto de Samba Sibipiruna vem prestar singela homenagem a esse grande bamba, referência obrigatória a todos que se prestam a falar de Samba ou Bahia.

Vai ser no dia 04/08/13, a partir das 15h no Esquina 108 (Rua Julia Leite de Barros, 108, Barão Geraldo, Campinas – SP). E pode chegar, sendo ruim da cabeça ou doente do pé, quem não se rende aos encantos de Dorival Caymmi, bom sujeito não é.

domingo, 30 de junho de 2013

Paulo César Pinheiro - por Pedro Rossi



Paulo César Pinheiro merece todas as homenagens do projeto de samba Sibipiruna. Sua história pode ser medida pela categoria de seus parceiros, como Tom Jobim, Aldir Blanc, Moacir Luz, Dorival Caymmi, Lenine, Guinga, Carlos Lyra... e Paulo César tinha apreço pelas parcerias. “Parceria é um casamento que dura”, dizia ele que era o mestre em encontrar a palavra perfeita para cada sequencia melódica. Dos seus parceiros, aparentava conhecer o fundo da alma. Foi assim quando presenteou o amigo João Nogueira com parte da letra biográfica na parceria “Espelho”, referência obrigatória de todo sambista. E também quando escreveu que queria morrer no samba “de baquetas na mão”, para o mestre e baterista Wilson das Neves. Ou então quando escreveu a letra de “Refém da Solidão”, uma obra prima do samba, no momento em que o parceiro Baden Powell atravessava uma fase depressiva, na qual ainda cicatrizava uma separação.
Os sambas de Paulo César Pinheiro foram para os ouvidos do grande público especialmente nas vozes de João Nogueira, Elis Regina e Clara Nunes. Para Clara, com quem foi casado, compôs músicas que contribuíram para transformá-la em um mito do samba, como “Portela na Avenida”, “Canto das três Raças” e “Menino Deus”. Clara estava no auge de sua carreira e era a mais popular das cantoras brasileiras quando veio a falecer. Seu enterro comoveu o povo que se aglomerava para ver o cortejo sair da quadra da Portela. Da dor de sua morte, Paulo César compôs “Um Ser de Luz” com Mauro Duarte e João Nogueira, música que o compositor nunca conseguiu cantar pois, segundo ele, “só de pensar na letra, o choro já trava a garganta”.
Paulo César tem mais de mil músicas gravadas. Muitas delas já consagradas nas rodas de sambas, outras quase desconhecidas, escondidas na voz de intérpretes inexplorados e pulverizadas pelo mundo da música. Pesquisar o seu repertório é se deliciar com a palavra inesperada, com a poesia genuína, e com toda beleza que o samba pode oferecer.
Salve Paulo César Pinheiro, um dos maiores, senão o maior letrista da música brasileira!

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Da Mangueira pro Sibipiruna: Nelson Antônio da Silva, com seu cavaquinho.



Por BATATA ROMANINI

 
Desponta, no dia 29 de outubro de 1911, a Luz Negra. Não aquela simbolizando a morte e seu entorno, tema característico e recorrente da obra desse ícone. Na gênese de bambas, o surgimento da Luz de uma pele Negra que mudaria para sempre a trajetória do samba. A Luz Negra que representa a voz rouca, o estilo único de tocar, a malandragem, as noites em serestas, a autêntica boemia. Falamos aqui de Nelson Cavaquinho. Ao mestre, com licença.

Filho de Maria Paula da Silva, lavadeira do convento de Santa Teresa. Filho de Brás Antônio da Silva, que tocava tuba na Polícia Militar. Sobrinho de Elvino, de quem o violino tentava acompanhar em um instrumento improvisado, montado com uma caixa de charuto e arames esticados. Dessa maneira a música entrou na vida de Nelson Antonio da Silva pra nunca mais sair.

Da infância na Lapa à adolescência na Gávea, onde conviveu com grandes chorões da época, a paixão pelo cavaquinho o fez observar os grandes tocarem e a treinar as artimanhas aprendidas com o olhar quando alguém lhe emprestava o instrumento. Assim, de maneira autodidata, desenvolveu sua marca: balançar as cordas de aço com apenas dois dedos. Seu novo e eterno batismo artístico se concluiu... Tornou-se Nelson Cavaquinho, músico respeitado e admirado graças ao choro “Queda”.

Forçado pelo pai da noiva se casou com Alice Ferreira Neves aos 20 anos, com quem gerou quatro filhos. Para conseguir manter a família passou, através da indicação de seu pai, a trabalhar na cavalaria da Polícia Militar. Sua função? Fazer rondas noturnas no Morro da Mangueira. A vida boêmia na verde-e-rosa permitiu que conhecesse figuras como Cartola e Carlos Cachaça e que se tornasse mais um poeta da Estação Primeira. Entregou-se ao samba e à vida noturna, ficava por dias sem retornar à sua casa, sem regressar ao trabalho. Punido com várias detenções por essa conduta, compôs “Entre a Cruz e a Espada” em um dos episódios de prisão.

Saiu da Polícia Militar, terminou seu casamento. Agora seu pecado era “passar noites em serestas, bebendo por aí, pela cidade”. Estava entregue de vez à boêmia e à pobreza. Passou a frequentar a Praça Tiradentes, onde conheceu Lígia, uma sem-teto que dormia no local. Em meio ao romance, Nelson chegou a tatuar o nome dela no ombro direito. A música "Tatuagem" faz menção a esse acontecimento: "O meu único fracasso/ Está na tatuagem do meu braço".

Com Cartola compôs a música “Devia Ser Condenada”. Única parceira dos dois, afinal, dias após a concepção, Cartola encontraria um sujeito em um bar na Mangueira se dizendo autor da música. Nelson a havia vendido, assim como vendeu tantas outras, em troca de dinheiro, de um prato de comida, de um pernoite em um quarto de hotel barato. Em diversas ocasiões utilizou suas canções como moeda de troca para sobreviver. Nas madrugadas, pela mesa dos bares, acompanhado de uma bebida, dava forma às suas criações (a maioria sem registro, pois não as escrevia, mantinha-as na memória). Era isso que movia o Nelson compositor. Nas palavras do mesmo: “Nunca fiz samba por encomenda, por isso jamais vou compor um samba-enredo. Acho horrível você ter de fazer aqueles lá-lá-lá e oba-oba obrigatórios na linha melódica das escolas de samba. Faço músicas para tirar as coisas de dentro do coração. E foi assim desde o dia em que fiz meu primeiro samba”.

Sua primeira composição registrada foi “Não Faça Vontade a Ela” por Alcides Gerardi em 1939, mas seu primeiro sucesso só foi acontecer com “Rugas”, gravado em 1946 por Ciro Monteiro. Na década de 50, optou por trocar o cavaquinho pelo violão e conheceu seu principal parceiro, Guilherme de Brito, com quem compôs vários de seus sucessos. A fama só veio na década de 1960 quando passou a se apresentar no Zicartola.

Foi apenas em 1970 que gravou seu primeiro disco. Em seu terceiro, de 1973, foi, pela primeira vez, a público tocando o instrumento que deu origem ao seu batismo de bamba. Nesse mesmo trabalho, Guilherme de Brito gravou, pela primeira vez, ao lado do amigo, suas mais importantes composições: “A Flor e o Espinho”, “Quando Eu Me Chamar Saudade”, “Pranto de Poeta”.

Quando já estava “no último degrau da vida”, o poeta gravou o disco-tributo “As Flores em Vida”, em que canta quatro faixas, sendo as demais interpretadas por Cristina Buarque, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, João Bosco e Toquinho.

Na madrugada do dia 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, poucos dias após a Mangueira vencer o carnaval, a morte, tão presente em suas composições, o encontrou. Um enfisema pulmonar apagara a Luz daquele de cor Negra.

Se o pranto em mangueira é tão diferente, no Sibipiruna não é diferente. Agora, Nelson Cavaquinho se torna um novo ramo. Cada nova folha crescida, uma canção a ser ouvida. Enquanto na árvore puder existir, Nelson Cavaquinho não se chamará saudade. Será eterno novamente!

 


quinta-feira, 2 de maio de 2013

AO CIENTISTA POETA.


Paulo Emilio Vanzolini nos deixou essa semana, o cientista reconhecido se foi, um defensor da pesquisa acadêmica de qualidade nos deixou. Mas para além da ciência perdemos um grande poeta, sambista, que sem estudar música se tornou um músico.
Nascido em São Paulo, passou parte da infância e juventude no Rio de Janeiro, onde se apaixonou pelo samba. Samba que o consagrou e consagrou grandes nomes da música popular brasileira como Noite Ilustrada um dos maiores interpretes do samba brasileiro.
O poeta cresceu, tornou-se cientista respeitado além de ajudar a criar a FAPESP, foi diretor do Museu de Zoologia da USP, e doou todo o seu acervo pessoal para a biblioteca da mesmo Universidade.
E foi andando pelas ruas da cidade de São Paulo que veio a principal inspiração, as ruas, praças, bares, foram parte da temática dos sambas do poeta que retratou a boemia, amores perdidos e tragédias que entristecem nossos corações, mas também compôs a alegria e os prazeres que o samba nos traz.
Hoje a Praça Clóvis esta cheia, a nossa Ronda nos fez chegar ao Sibipiruna trazendo o Cravo Branco na mão, cantando o Samba Erudito ou não, esperando a Capoeira do Arnaldo, para homenagear o cientista poeta,então é hora de levantar a poeira e dar a volta por cima como dizia o poeta cientista, Paulo Vanzolini MUITO OBRIGADO.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

São Pixinguinha

 





Pixinguinha (1897 - 1973)

                                                                                                                                     por André Santos 

Nascido no Rio de Janeiro em 23 de abril de 1897, data em que é comemorado o dia de São Jorge, Alfredo da Rocha Vianna Filho foi um dos oito filhos de Alfredo da Rocha Vianna e Raimunda Maria da Conceição. As reuniões de chorões que o pai Alfredo, flautista, fazia em sua casa no bairro do Catumbi, Rio de Janeiro, encantava a criançada, tanto que a maior parte dos filhos seguiu a paixão do pai, inclusive Alfredo filho, que se tornou Pixinguinha, um dos maiores músicos brasileiros da história, exímio flautista, saxofonista, compositor e arranjador de choros, sambas e valsas.  

Pizindim foi o primeiro apelido do garoto, caçula entre oito irmãos. Mais tarde, após o menino contrair Bexiga na época da epidemia, o apelido modificou-se para Bexiguinha e depois Pexinguinha, terminando por ficar conhecido como Pixinguinha. Aos onze anos o menino começou a aprender música com os irmãos mais velhos tocando cavaquinho. Logo o garoto se destacou entre os demais. Aos doze anos compôs seu primeiro choro, Lata de leite, homenagem aos chorões que, ao voltarem da boemia, bebiam os leites já deixados nas portas das residências pela manhã.

Pixinguinha aprendeu a tocar flauta com o professor Irineu de Almeida e aos 14 anos já participava de ranchos e sociedades carnavalescas. Nessa época, seu irmão mais velho, conhecido como China, lhe arranjou o primeiro emprego como músico, tocando em cabarés na Lapa. Com o sucesso na noite, três anos depois, em 1914, Pixinguinha foi convidado a trabalhar na Orquestra do Teatro Rio Branco como flautista. Nesses anos, o músico também tomava parte nas famosas reuniões de sambistas e chorões na casa da Tia Ciata, tido como o berço do samba carioca. Ali, participou do nascimento do primeiro samba gravado, Pelo telefone, estrondoso sucesso do carnaval de 1917. Em 1919, por sua vez, Pixinguinha emplacou seu primeiro sucesso do festejo com Já te digo, tornando-se figura bastante conhecida da música da cidade.

No início da década de 20 teve grande sucesso o grupo “Os oito batutas”, formado por Pixinguinha para tocar na sala de espera do Cinema Palais, templo da elite carioca da época. O espaço, que antes era dedicado a ritmos estrangeiros como polca, mazurcas e xotes, recebia pela primeira vez um repertório de música nacional, com os choros e sambas de Pixinguinha, Donga e companhia. Após a boa recepção da temporada de estreia, o grupo excursionou por todo o Brasil com grande destaque e adicionou ao seu repertorio “emboladas”, “cocos” e “desafios”. A flauta de Pixinguinha era constantemente elogiada pela crítica, por onde passava o grupo.

Em 1922 os Oito Batutas realizaram uma temporada em Paris com enorme sucesso, para desapontamento da crítica racista no Brasil, que não deixou de desferir seus preconceitos pelo fato de oito negros estarem representando a música brasileira no exterior. A temporada que seria de três meses, durou o dobro de tempo, tamanho o sucesso do grupo. Ao voltarem para o Brasil, os Oito Batutas ainda realizaram turnê pela Argentina antes do grupo se desfazer. Pixinguinha tornou-se então maestro da Orquestra da Companhia Negra de Revistas, famoso teatro de revista da época, que contava, entre outras personalidades negras, com o jovem ator Grande Otelo.

Foi no Teatro de Revistas que Pixinguinha conheceu aquela que seria sua esposa e companheira desde 1927, ano do casamento, até o final de sua vida. Albertina da Rocha, a Betty, era a estrela da Companhia Negra de Revista e com Pixinguinha teve um filho adotivo, chamado Alfredo da Rocha Vianna Neto, conhecido como Alfredinho.

Em 1930 Pixinguinha tornou-se maestro exclusivo da maior gravadora da época, a RCA Victor, e lá orquestrou seu maior sucesso, Carinhoso, música que o consagraria em definitivo como um dos maiores compositores da nossa música. Com o Grupo da Velha Guarda o flautista orquestrou e gravou com os maiores cantores da época. De Ismael Silva a Carmen Mirando, de Noel Rosa a Carlos Galhardo.

Na década de 40, Pixinguinha ficou impossibilitado de tocar flauta e adotou o saxofone como instrumento. Neste período, formou dupla com o flautista Benedito Lacerda. Os contrapontos que o sax de Pixinguinha fazia à flauta de Lacerda tornaram-se famosos e consagrados na história da MPB. O mestre mudava de instrumento, mas sua habilidade e sensibilidade musical ainda eram as mesmas. Acompanhados pelo Grupo da Velha Guarda, em 1954 a dupla tocou no Parque do Ibirapuera por ocasião da comemoração do quarto centenário da cidade de São Paulo, quando Pixinguinha recebeu uma homenagem da comissão do evento.

Ao longo da década de 60 as homenagens ao mestre só iriam aumentar, entre medalhas, prêmios e shows. Dentre os quarenta troféus e prêmios, destacam-se dois Discos de Ouro, o Jubileu de Prata da Rádio Roquete Pinto, a Ordem Comendador do Clube de Jazz e Bossa e o Diploma da Ordem do Mérito do Trabalho, recebido das mãos do presidente da república. Em 1968 Pixinguinha gravaria ao lado dos amigos Clementina de Jesus e João da Baiana um dos mais sublimes e preciosos documentos da nossa música popular, o LP Gente de Antiga, composto de sambas, choros, batucadas, corimas e partido-alto.

Em 17 de fevereiro de 1973 Pixinguinha faleceu dentro da igreja Nossa Senhora da Paz, onde estava para batizar o filho de um amigo. Foi enterrado no dia seguinte, no cemitério de Inhaúma, Rio de Janeiro, ao lado de sua mulher, que falecera um ano antes.  No ano seguinte, a Escola de Samba Portela desfilava em homenagem ao mestre, tornando-se vice-campã do carnaval carioca e imortalizando mais um samba-enredo que é lembrado nas rodas de samba pelo Brasil:

"E ele que era um poema de ternura e paz
fez um buque que não se esquece mais
de rosas musicias"

Agora, em maio de 2013, a roda de samba será formada mais uma vez em frente à Sibipiruna, que vai balançar ao som dos choros e sambas deste pioneiro e ilustre músico que soube ser bem brasileiro em uma época em que bonito era imitar estrangeiro. Pixinguinha foi o mestre maior que abriu caminho para que todos os sambistas e chorões pudessem cantar em roda e desfilar no morro, no asfalto ou na avenida. A você Maestro e Mestre Alfredo da Rocha Vianna Filho, a nossa homenagem dia 5 de maio de 2013.    


Frases sobre Pixinguinha:
Vinícius de Moraes
“Pixinguinha pra mim continua sendo o maior de todos os músicos populares brasileiros”.

“Pixinguinha é o melhor ser humano que eu conheço. E olha que o que eu conheço de gente não é fácil!”.

Fernando Faro
“Pixinguinha sempre foi admirado, respeitado e querido”.

Tom Jobim
“Você sabe que o Pixinguinha morreu de repente aqui na Nossa Senhora da Paz, né. Ele foi a igreja e morreu na igreja. É um santo mesmo.”   

Vídeos:

 http://www.youtube.com/watch?v=b_Bi5p_Q8ak

 http://www.youtube.com/watch?v=fhqAVEEezAw
 

segunda-feira, 1 de abril de 2013


Essa tal criatura do samba.


Gabi e Souza.
Foto: Maíra Sampaio e Douglas Darzo 

Afilhada musical de Cartola, primeira mulher a integrar a ala de compositores da Mangueira, exímia compositora de sambas de terreiro, de protesto e, claro, dos amores não correspondidos, autora do samba que ficou conhecido como “hino do pagode” e madrinha de boa parte dos pagodeiros de 1990, Leci Brandão é a próxima homenageada do Sibipiruna.
De origem humilde, teve a necessidade de trabalhar desde muito nova. A filha de Dona Leci foi operária, telefonista, carregou marmita e só conseguiu um cargo com remuneração maior após ficar conhecida por participar do programa “A grande chance”, no qual foi considerada a melhor compositora da noite.
Negra e pobre - o que não se configura, necessariamente, como um obstáculo no mundo do samba -, é o fato de ser “mulher de fibra” e de “por a boca no mundo e fazer um discurso profundo” o que caracteriza, sobretudo, sua trajetória pelo mundo do samba e para além dele. 
Nascida em Madureira, mas “verde e rosa de coração”, Leci Brandão adentra no tradicionalíssimo mundo do samba carioca em 1971, quando, convidada por Zé Branco, realiza um ‘estagio’ na ala de compositores da Mangueira. Em 1972 já desfilava na escola como sendo a primeira mulher a integrar esta ala e em 74 concorria em sua primeira final de samba-enredo. Fato este que se repetiu por mais cinco vezes, tornando-se “hexa-campeã de vice-campeonatos”. Infelizmente nunca conseguiu ver sua escola desfilar com um samba de sua autoria.
 A cantora, antes, se apresentou em festivais estudantis do final dos anos 60 e no famoso Teatro Opinião. Neste contexto de resistência à ditadura militar e de uma arte engajada, suas composições, cujo tema era seu cotidiano, ganham o gosto dos críticos: sofrimento, luta e condição subalterna  transformam-se em gritantes canções.
Como compositora contou, protestou, cantou e denunciou a Dona de casa, o Bagulho do amante, a Maria de um só João,o Negro zumbi, a Mistura da raça. Além das musicas destinadas à defesa dos homossexuais como Questão de gosto, Ombro-amigo, Chantagem; não se esquecendo de clássicos como Menor abandonado, Deixa, deixa e Zé do caroço.
Ao receber “sugestões” para abandonar o repertório muito contestador que daria corpo ao disco a ser lançado em 1981 pela multinacional Poligram - dentre elas estariam Zé do caroço e Deixa,deixa – Leci pede demissão da gravadora.  Não se rendendo a “essa gente negligente, quase sempre indiferente à nossa canção” a cantora vive basicamente de seus shows durante cinco anos.  Mas como a “força da dureza não cala o cantor” Leci volta a gravar em 1985, quando Zé do Caroço se consagra, sendo regravado, ainda, nos anos 90 pelo Art Popular e no início dos anos 2000 por Revelação, Seu Jorge e Mariana Aydar.
Esse segundo momento de seu retorno aos discos é também um momento em que Leci passa a priorizar e/ou ser priorizada por São Paulo. Como ela mesma diz, é São Paulo quem a consagra. É a emergência dos grupos de pagodes – que se inicia com o boom do Raça Negra – que restitui o samba aos holofotes em finais de 80. São as parcerias e regravações dos pagodeiros de 90 – Só preto, Sem Compromisso, Sensação, Art Popular, É d+, Pique Novo, os Morenos entre outros - que trazem Leci de volta à mídia, agora, como madrinha e sambista respeitada.
Sem arrogância e problematizando o preconceito, desculpa-se com o poeta, mas defende o samba paulista da Barra Funda, do Bexiga e da Nenê. Afasta-se de críticas maldosas e é humilde ao reconhecer os ganhos que os sambistas tiveram com a chegada dos grupos de pagode dos anos 90: desde melhores condições de trabalho – transporte, camarim, estrutura de som e luz – até o retorno “dos velhinhos” do samba ao rádio e mesmo à mídia – não só ela, mas também Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Almir Guineto são bons exemplos disso. “O que é isso meu amor venha me dizer: Isso é fundo de quintal é pagode pra valer”.
          É assim nossa musa, vivendo e cantando as contradições que alimentam a tradição e a modernidade, o samba e o mundo. Leci Brandão faz da "vergonha, loucura, abre e escancara a verdade, nua sem ser preconceito". No domingo, deixemos a vergonha de lado. Amemos " essa tal criatura que envergonhou a cidade"!