sábado, 24 de agosto de 2013

Um salve ao ¨Moleque Atrevido¨: poesia, pagode e amor!


^^ E assim se fez (re)conhecido, por entre cabrochas e bambas, batucadas e palhetadas, nosso muito estimado ¨Moleque Atrevido¨, compositor sofisticado e de irrestrita sensibilidade e profundidade. Sua graça despontou na cena do samba quando gravado por ninguém menos que Elza Soares em 1976, catapultando aos nossos ouvidos sua singular veia poética e musical: surge, pois, nosso arrojado ¨Malandro¨. Berço do carnaval carioca, comentarista dos desfiles das escolas cariocas, o barbudo sorridente de ¨Cabelo Pixaim¨, difícil de se aturar, tivera seu primeiro álbum solo gravado em 1981 que leva como título seu próprio nome, alcançando um pouco mais de 20 discos.
Ex-integrante do Cacique de Ramos, estabelecera diversas parcerias com outros membros – deste famoso bloco carnavalesco que desfilava na Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro – e hábeis partideiros das festivas rodas de samba ocorridas às quartas-feiras. Dentre outros, Almir Guineto, Bira Presidente, Neoci (filho do célebre compositor João da Baiana), Sereno, Sombrinha e Ubirany.
Em poucos anos, a nova batucada decorrente das rodas de samba caciqueanas em que Jorge Aragão estivera presente incorporou ingredientes temperados pela ausência de pré-conceitos comumente tradicionalistas; invenções de instrumentos percussivos inusitados (o banjo, por Almir Guineto, o tantã, por Sereno e o repique de mão pelo Ubirany) trouxeram uma nova roupagem estética às rodas de samba, abrindo terreno para o batuque brasileiro se comunicar, o pagode popular se firmar e recriar sua voz ativa, expressão poética espontânea e oriunda ¨Do Fundo do Nosso Quintal¨. E a tradição se refez, renovou sua ¨Coisa de Pele¨, propôs o diferente, alteridade a ser respeitada por quem chegou primeiro, inexorável correnteza que transcende e chacoalha as mono-definições da radicular ¨Identidade¨, fincada em estandartes dominantes da pureza do samba, certo ¨Abuso de Poder¨, podões dos corolários positivamente subversivos a certa ordem.
Assim, as canções “jorgeanas” brilharam, alçaram um destemido ¨Vôo de Paz¨ e conquistaram um inegável ¨Alvarᨠartístico, penetrando na vida musical de todos admiradores não discriminadores de samba no pagode ou de pagode com samba (ou será ao contrário?). Zeca Pagodinho, outra cria do Cacique, Beth Carvalho, Emílio Santiago, Alcione, Martinho da Vila flertaram, cortejaram e se entregaram a uma espécie de ¨Amor à Primeira Vista¨, singelo ¨Feitio de Paixão¨ com nosso homenageado do mês, gravando e regravando suas músicas.
¨De Sampa a São Luís¨, ¨De Paris a Irajá¨, rogos de preces ao poder de ¨Sanguiné¨, advento de ¨Novos Tempos¨, Jorge Aragão, um também ¨Adepto do Samba Sincopado¨, proporcionou deleitosas noites de ¨Reflexão¨ sobre ¨Guerra e Paz¨, sobre os meandros imperceptíveis e espaços irreconhecíveis no âmago dos corações: os sempre almejados e desbravados ¨Mistérios do Peito¨; desfibrilou a ¨História do Brasil¨, recitou o ¨Amor dos Deuses¨ ao pé do ouvido dos ¨Amigos... Amantes¨, estes ainda ¨Ontem¨ rediscutindo sua ¨Doce Amizade¨; quiçá afogando a ¨Sede¨ de paixões sobrescritas num simples ¨Papel de Pão¨, confessando por entre lágrimas e juras sua incorruptível ¨Ponta de Dor¨, embargando a voz e desejando obter, por intermédio divino, um ¨Resto de Esperança”. E ao longe, baixinho, ouvidos apaixonados buscando soluções e refletindo as consequências das ¨Loucuras de uma Paixão¨, na frequência mais antiga da ¨Faixa Nobre¨ de um ¨Tape Deck¨. Sonhos de que um dia seja remendada a ¨Colcha de Algodão¨, decifrado o ¨Teor Invendável¨ da apoteose daquele sempre inédito e misterioso ¨Enredo do Meu Samba¨.
Sua tonitruante voz reverberou quem sabe até mesmo no ¨Quintal do Céu”, deixou espectadores celestes ¨Chorando Estrelas” e amargando o fel de uma disparatada e ¨Fria Lição¨. Aquela desastrada e melancólica ¨Borboleta Cega¨, confusa sobre a ¨Tendência¨ de tal ou qual vento que lhe vem arrebatar o caminho, enganada pela ¨Quinta Promessa¨ da ¨Raiz e Flor¨. ¨Logo Agora¨? Quando mais se pensou que seríamos ¨Eu e Você Sempre¨?
Enfim, homenagem é homenagem, feita com amor e respeito embebidos daquela alegria comumente encontrada em rodas de samba. A ti, Jorge Aragão, as nossas energias e nosso axé! O senhor já foi, ¨Já é” e sempre será um fantástico compositor, e, em sensata conformidade com o movimento transformador da história, que continue sempre inovador e agregador do samba pagodeado ou pagode sambeado, o qual certamente não findou e não ¨Termina Aqui¨.^^

                                                                                                Por Fernando Roberti (Broke)

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