segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Na minha casa todo mundo é bamba! Todo mundo bebe, todo mundo samba!




Por Thiago Fernandes Franco: Peixe.

Madalena do Jucu é sem dúvida uma das minhas mais remotas memórias musicais. Eu não devia ter cinco anos quando já sabia a letra inteira e passava o dia a cantá-la mais minha irmã, aprendendo que apesar de toda a cagação de regra dos nossos pais, eles passaram pelas mesmas coisas, viveram os mesmos amores e cometeram os mesmo erros que nós viríamos – muitos anos depois – a cometer. Pode soar estranho, mas esse fatalismo era muito confortante e marcou definitivamente o meu modo de sentir e o de pensar. Acho que não seria exagero, mesmo, creditar o meu profundo desacordo com as relações de autoridade a esta potente memória musical que desde então me acompanha.

Ao lado de Vinícius, Chico e Adoniran, Martinho da Vila compõe a santíssima trindade daqueles que partilharam todo o meu processo educacional com a minha família, tanto quanto com os meus amigos e com os meus professores. Foi com eles todos que aprendi a viver as coisas. E cumpre ressaltar que o Martinho sempre foi bastante diferente dos outros três, e é mesmo com muita forçação de barra que se forma essa “trindade”. Mais ou menos aquela forçação de barra com que o povo do além-mar precisou se virar pelas bandas do lado de cá, naquele tal de sincretismo que o Martinho cantou desde sempre com aquele seu jeito desapressado... com aquela cadência lenta... com aquele jeito simples e natural de cantar como se o samba viesse de dentro do coração com toda a sua verdade.

Aquele coro em resposta daquelas moças negras – que depois descobri suas filhas; aquela pimenta toda especial daqueles sambas abaianados; aqueles sambas de roda, de enredo (Sambar na avenida de azul e branco é o nosso papel, mostrando pro povo que o berço do samba é lá em Vila Isabel)... pagodes... aqueles calangos da zona rural fluminense tocados com sanfona e contrabaixo... que não se sabe se é mais samba ou mais baião, mas que é só botar as mãos nas cadeiras e sair dançando... Cagando e andando pros rótulos...

E aqueles sambas de amor, sensuais, viscerais, dilacerantes... que de tanto ouvir já parece que já se viveu.. e que quando se vive parece que já é mais fácil de suportar...

Aquela batucada da umbanda, do candomblé e da macumba com galinha preta e azeite de dendê... Aqueles sinos da igrejinha a fazer belémbléblam.

Toda aquela força da negritude que se afirma do alto da sua pureza, sem revanchismo, com toda a sua verdade e a sua potência que somente na adolescência eu fui descobrir em bambas do calibre de Zé Keti, Luis Carlos da(s) Vila(s) e toda a gente da Quilombo comandada pela altivez do Mestre Candeia.

Aquele modo tão simples e tão forte. Aquela Pretinhosidade – pra ficar tudo em casa de bamba mais uma vez.

O primeiro sambista a cravar um milhão de cópias – ainda por cima num disco feito todo de improviso... Na época eu conhecia apenas uma cópia de cassete que o Tio Mário – muito antes de me levar ao Canecão cantar junto com o Martinho – gravara para o meu pai. Provavelmente sem saber o quanto tudo isso viria a nos aproximar bem mais no futuro.

Não pretendo me estender sobre aquela sacanagem toda de que o Martinho é um vendido porque supostamente comercial de tão tocado. Vou reproduzir noutro poste um artigo do Cabral para o Pasquim no qual ele fala tudo o que eu tenho a falar sobre essa gente babaca que não critica a desigualdade nem os pressupostos de uma sociedade a cada dia mais desigual e mais babaca, mas que olha com olhos de desprezo qualquer ascensão social de qualquer preto.

Dizem que eu sou um burguês muito privilegiado...mas burgueses são vocês... eu não passo de um pobre coitado, mas quem quiser ser como eu vai ter é que penar um bocado.

Pra voltar ao que é gostoso, ao que o samba é na sua forma mais porreta, naquele ensinamento coletivo que educa porque partilha e que comunga porque caleja... Nunca é demais lembrar o grande ensinamento que o mestre cantou menos do que viveu: É devagar, é devagar, é devagar é devagar devagarinho... Devagarinho é que a gente chega lá, se você não acredita você pode tropeçar.

E termino cá com as risadas compulsivas das minhas filhas toda vez que eu canto essa pequena fábula em que o dedão xinga o cara... lição de vida.

Como aprendi com papai, na minha casa, todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba. 

Viva o Martinho da Vila, o pai da Alegria!

Viva o samba e viva a batucada que sempre será dessa gente de cor e de quem mais souber chegar.

E viva a criançada porque o tal do samba fica muito mais bunito na rua do que em qualquer museu.


                                                         "Canta Canta, minha Gente
                                                           Deixa a tristeza pra lá.
                                                           Canta forte, canta alto,
                                                           Que a vida vai melhorar.
                                                           Que a vida vai melhorar"




No Dia Nacional do Samba (02/12/2012) o Projeto de Samba Sipipiruna terá o orgulho de homenagear este grande baluarte do samba, Martinho da Vila, a partir das 15 horas, no Bar Esquina 108.
É só chegar !!!!!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Salve o Samba! Queremos Samba!

Novembro de 1999. Há treze anos, despedia-se do palco da vida Zé Keti da Portela. Autor de clássicos da música popular brasileira, como A Voz do Morro ("Eu sou o Samba/ a voz do morro sou eu mesmo, sim senhor"), Máscara Negra ("Quanto riso, ó, quanta alegria/ mais de mil palhaços no salão"), dentre inúmeros outros, ingressou na Ala de Compositores da Portela na década de 1940, conquistando grande respeito e admiração. Apesar do estrelato, era alheio à própria fama, graças ao jeito recatado, quase tímido, que desde a infância lhe rendera o apelido - "zé quieto", "zé quietinho", não era muito chegado a exibicionismos e vaidade excessiva.
Ligado às questões sociais, como se percebe em Acender as Velas ("O doutor chegou tarde demais/ porque, no morro,/ não tem automóvel pra subir,/ não tem telefone pra chamar/ e não tem beleza pra se ver/ e a gente morre sem querer morrer"), 400 anos de favela ("barracão de zinco perfurado/ quando chove, durmo no molhado") ou ainda a subversiva Opinião ("podem me prender, podem me bater,/ podem até deixar-me sem comer"), cujo título batizou um espetáculo de grande repercussão, recém instaurada a ditadura militar de 1964.
Lembro-me da notícia sobre seu falecimento, um coro de muitas pessoas cantando músicas de sua autoria, numa despedida muito emocionante. O coro, desta vez, é por nossa conta: No dia 04/11/12, o Projeto de Samba Sibipiruna fará homenagem a Zé Keti da Portela. Venha somar, a partir das 15h, na Rua Julia Leite de Barros, 108, Barão Geraldo, Campinas. Quem está pedindo é a voz do povo de um país.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Aniversário Sibipiruna

Foto de fundação do Projeto de Samba Sibipiruna; Outubro de 2011
















Dezembro de 2011, Foto: Karina Kaká

















O samba é meu dom...
Num domingo ensolarado à sombra da Sibipiruna, bambas sedentos ousaram levar os seus instrumentos e desfrutar do samba.... e a sede é tanta, que então, na companhia dessa mesma sombra, nasce o Projeto de Samba Sibipiruna.
Encontro mensal que vem crescendo e unindo sambistas assim como a árvore Sibipiruna cresce e nos presenteia com a suas folhas, flores, cores e sombra; uma roda que reúne felicidade, amores, amizades e muito samba com compositores, com homenageados – bambas que fizeram do samba a sua morada –  e a grande roda de samba.
Um ano de couro comendo na batucada passou pelo repique do tamborim e estamos juntos a comemorar essa deliciosa roda que nos une e a homenagear os compositores que floriram os encontros com os seus sambas.




segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Antigamente era Paulo da Portela, Agora é Paulinho da Viola




Quem imaginaria que aquele garoto, nascido no bairro de Botafogo, no meio de músicos, sambistas e chorões, se tornaria o maior porta-voz do samba tradicional e da velha guarda? Quem diria que aquele cavaquinista e violonista seria considerado um dos compositores mais completos de todos tempos, criando antológicos sambas (do dolente ao partido alto, do romântico à representação do cotidiano), e choros melancolicamente profundos?

Paulinho da Viola não necessita de apresentação. Estabelecendo um elo constante entre o passado o presente em suas músicas e álbuns, Paulinho conseguiu apresentar composições relativamente modernas, sem romper com a essência do samba. Por meio dele, as Velhas Guardas (não apenas a da Portela) passaram a ser mais consideradas e respeitadas, seja via incorporação das músicas, seja via estímulo à constituição de alas e grupos de apresentação.

Com uma obra vasta e extensa, Paulinho da Viola é unanimidade em todos os segmentos do samba, chegando a um patamar comparável ao de Cartola e Candeia. E por todos estes motivos, a nossa Sibipiruna terá o prazer de homenageá-lo, cantando seus sambas antológicos!   

Sejam todos bem vindos: dia 02/09; a partir das 15 horas, no Bar Esquina 108 (Rua Julia Leite de Barros, 108, Barão Geraldo - Campinas)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

até amanhã, até já, até logo



Falar de Noël de Medeiros Rosa (11/12/1910 – 4/5/1937) é quase chover no molhado. Compositor, cantor, violonista e boêmio profissional, assim foi Noel. Nascido em Vila Isabel, numa família de classe média baixa cujo sonho era vê-lo doutor em medicina... ele bem que tentou, mas o chamado da música foi mais forte, para nossa sorte. Noel Rosa revolucionou a letra da música brasileira, contando, como poucos, a cidade em transformação e as figuras populares. A revolução refletiu também na música, influenciada pelo batuque que vinha dos morros e dos subúrbios cariocas, da turma do Estácio, do Deixa Falar.
Grande cronista, admirado e celebrado desde a década de 1930 até os dias atuais. Autor de marchas, foxes, emboladas, valsas, foi no Samba que Noel se destacou. De sua primeira gravação aos 19 anos, até a derradeira antes dos 27 anos completos. Adeus é pra que deixa a vida, e o grande artista se foi, levado pela tuberculose, com choro, vela e fita amarela.
No dia 05/08, nossa roda de Samba fará homenagem a esse Sambista de valor inestimável, que revolucionou a letra, a música e a maneira de se fazer e de se cantar Samba. Contava Nássara, amigo pessoal, que certa vez encontrara Noel envolto por garrafas de cerveja e cálices de conhaque: “ – você está maluco, Noel? Doente e bebendo desse jeito?”. Ao que o boêmio respondeu: “ – Sabe o que é Nassara? Me disseram que cerveja alimenta. Como não sei comer sem beber, estou tomando um conhaquezinho pra acompanhar”.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

E malandro é malandro e mané é mané !!!




José Bezerra da Silva, nascido em  fevereiro de 1927, é considerado o maior nome de uma modalidade de samba muito especial. O Samba “suburbano”, se é que exista um samba não suburbano.
Mas o fato é que Bezerra da Silva foi o intérprete que melhor cantou os problemas de seu povo, o cotidiano da periferia, os problemas dos excluídos e marginalizados com a opressão e repressão (polícia e política). Assim, Bezerra é porta-voz de uma gama de compositores desconhecidos, suburbanos e talentosos.
Sua voz malandreada, seu jeito nordestino de cantar (visto que é oriundo de Recife – PE), e suas músicas que rondam à margem da contravenção, da ironia do cotidiana e das contradições vividas pelo seu povo,  têm a capacidade de fazer cantar e dançar jovens, senhores e adultos.
Por todos estes motivos, Bezerra da Silva é considerado o embaixador dos morros e favelas, instrumentalizando sua voz, suas canções para denunciar os problemas de um país desigual e injusto.
Assim, nossa querida Sibipiruna tem o maior prazer de cantar e homenagear o “bom malandro”. O Convite está feito: 01/07/2012, a partir das 15 horas.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

dois minutos de silêncio


Seu Nenê do Cavaco

A história de um Sambista de talento inato, vencedor de muitos carnavais, que ao se despedir da vida, deixa uma obra desconhecida pelo público e cai rapidamente no ostracismo. Esta crônica, paradoxalmente, parece atemporal. O endereço também poderia variar imensamente. Aconteceu na década de 1940 na Bahia, ou na década de 1960 em São Paulo? Ou será que foi na década de 1920 no Rio de Janeiro? Ou está acontecendo agora mesmo, aqui mesmo, sem que possamos nos dar conta?

Há exatos dois anos (18/06/2010), Campinas perdia um dos maiores representantes do seu Samba. Compositor vencedor de muitos carnavais pela Estrela D’Alva, escola de seu coração, Álvaro Matheus, mais conhecido como Seu Nenê do Cavaco, foi o responsável pela introdução de vários Sambistas da região ao instrumento que lhe apelidava. Escrevia este texto quando recebi, pelo amigo Helder Bittencourt Peruch, a notícia de que outro grande Sambista da vanguarda de Campinas, Juninho Fortaleza, também falecera.

Juninho Fortaleza
Aos parentes e amigos mais próximos, nossos sentimentos. Nosso projeto, posto que objetiva fortalecer a cultura do Samba como parte de nossa própria identidade, tem como uma das missões a de não deixar que se percam as histórias desses artistas de talento ímpar e pouco reconhecimento por parte da grande mídia. Sejamos a diferença que queremos ver em nossa cultura.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sou a Mineira Guerreira, filha de Ogum com Iansã!




 Clara Nunes trabalhava numa fábrica quando resolveu participar do concurso A Voz de Ouro ABC, em que foi vencedora na etapa mineira e terceiro lugar na final, em São Paulo, em 1959. A partir de então conseguiu um emprego em uma rádio de Belo Horizonte e se apresentava em casas noturnas da cidade. Em 1965 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde gravou seu primeiro disco, com repertório de boleros e sambas-canções. Depois de alguns álbus ainda com gênero indefinido, firmou-se no samba nos anos 70. Em 74, seu LP vendeu cerca de 300 mil cópias, graças ao sucesso do samba "Conto de Areia" (Romildo/ Toninho). Fio um recorde para a época, que rompeu com o tabu de que cantora não vendia discos e estimulou outras gravadoras que investissem em sambistas (mulheres) como Alcione, que gravou seu primeiro LP em 75 e Beth Carvalho, que transferiu-se para uma grande fábrica, a RCA, em 76. Os discos que se seguiram a transformaram em uma das três rainhas do samba dos anos 80, ao lado das outras duas referidas intérpretes. Clara gravou desde sambas-enredos até composições de Caymmi e Chico Buarque. Na segunda metade da década, lançou um disco por ano, todos com grandes vendas e gravações históricas, como as de "Juízo Final" (Nelson Cavaquinho/ Élcio Soares), "Coração Leviano" (Paulinho da Viola) e "Morena de Angola" (Chico Buarque). Ficou famosa também por suas canções calcadas em temas do Candomblé, sua religião, e por sua indumentária caracaterística, sempre de branco e com colares e missangas de origem africana. Morreu prematuramente após uma cirurgia malsucedida, causando consternação popular. (fonte: cliquemusic)
Sua conversão ao samba, seu respeito com a Velha Guarda, sua relação com as tradições afros, sua voz harmônica e potente fizeram de Clara uma das principais interpretes deste gênero musical, respeitada e admirada por todos os sambistas, independentemente de sua origem.

Assim, dia  03/06 o Projeto de Samba Sibipiruna terá o prazer e a honra em homenageá-la.
Aguardamos a presença de todos e todas.

terça-feira, 10 de abril de 2012

É bom no Samba, é bom no couro



Quem é que não se lembra do brado ufanista, motivado pela conjuntura política e fomentado pela conquista da seleção de 1970? Mais do que este momento pontual, a frase revela a relação íntima entre o Samba e o futebol, duas paixões nacionais tão distorcidas nos dias atuais... Sem preconceito ou mania de passado, a nossa homenagem de maio vai para dois craques da pelota que deixaram a carreira de jogador para se dedicarem ao Samba.

Janeiro de 1996. No bairro de Jacarepaguá, Rio, um atropelamento, uma vítima fatal e um motorista em fuga sem prestar socorro. Fato usual nas grandes cidades brasileiras, até os dias atuais, vitimava, desta vez, um grande Sambista, compositor e intérprete: Roberto Ribeiro.

Apaixonado por futebol, foi goleiro profissional pelo Goytacazes F. C. em sua cidade natal e chegou treinar no Fluminense, mudando-se para o Rio em 1965. Mas foi a partir de 1971, defendendo Sambas pelo Império Serrano, que ganhou destaque no universo artístico.

Cantar Roberto Ribeiro é homenagear Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho, Wilson Moreira, Nei Lopes, Monarco, Xangô, Nelson Rufino, Silas de Oliveira, Aniceto do Império. É uma homenagem ao Samba, Jongo, Ijexá, Afoxé, tantos ritmos e influências que jamais poderiam caber em um parágrafo.
Outro craque dessa seleção do Samba, de que não podemos nos esquecer, tanto pela ocasião de seu falecimento (30/03/12), quanto pela sua importância no Samba baiano, foi Ederaldo Gentil. É dito que o meia-esquerda do Esporte Clube Guarany, que teve ainda uma breve passagem pelo Vitória, poderia facilmente seguir a carreira de atleta. Mas o chamado do Samba foi mais forte.

Ederaldo nasceu no centro da velha Salvador e ganhou destaque no bairro do Tororó, para onde se mudou na adolescência, integrando a ala de compositores da Escola de Samba Filhos de Tororó. Compositor de sucesso, conta-se que Gentil resolveu afastar-se de sua Escola em 1969, sendo prontamente assediado pelas demais. Deste modo, em 1970, à excessão dos Filhos de Tororó, todas as outras nove Escolas de Samba desfilaram com um enredo de sua autoria.

O futebol e o Samba certamente já viveram tempos melhores que os atuais. E o Samba da Sibipruna fará homenagem a esses dois nomes de peso no dia 6 de maio, em celebração a esses tempos que não voltam, mas que merecem ser lembrados. ‘Tem que ser agora, ou nunca mais’, pois, quando menos se espera, ‘o ouro afunda no mar...’

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Seis meses de Sibipiruna



No dia 02/04, o Projeto de Samba Sibipiruna completou meio ano de vida. Motivos para comemorar não faltaram, e ainda há de vir muita coisa boa por aí... Sambas autorais de primeira, uma roda animada e a justa homenagem ao mestre Cartola.

O ponto alto da festa ficou por conta da presença de Toinho Melodia, grande baluarte do Samba paulista, que deu uma verdadeira aula de Samba para a rapaziada, cantando de crônicas urbanas a ‘Sambas sem-vergonha’, sem esquecer de exaltar sua Agremiação do coração, a Vila Maria.

Ao final da noite, Toinho Melodia agradeceu humildemente pela acolhida e deu a letra: “Não deixem isso acabar nunca. Não deixem o Samba acabar”. E ainda por cima, prometeu voltar...

Agradecemos imensamente a tod@s que tem contribuído com o Projeto. Nossa bandeira não vai cair. Vida longa à Sibipiruna!

sábado, 17 de março de 2012

“Queixo-me às rosas, mas que bobagem ... as rosas não falam”





Nascia em 1908, no bairro do Catete (RJ) um tal Agenor de Oliveira, “vulgo” Cartola. 

Fundador da Escola de Samba mais popular do Brasil (Mangueira), Cartola (o tal Agenor) é considerado um dos maiores compositores da música brasileira, com musicas antológicas tais como  “O Mundo é um Moinho” e “As Rosas não Falam”.

O que dizer de um homem que, com baixos recursos de extrema simplicidade, produziu, das mais profundas entranhas da sensibilidade humana, canções harmônica e melodicamente incomparáveis? O que dizer de um homem  que, perseguido e desvalorizado até a sua morte, foi admirado por variados músicos tais como Villa Lobos e Stokovsky?

Do “Buraco Quente” à Praça Onze, do Zicartola às rodas de Samba, Cartola –  o sambista, o músico, o operário – será sempre lembrado por todos aqueles que acreditam na cultura popular e que gostam de boa música.

Nada mais justo homenagear este grande sambista. O convite está feito: dia 01/04/2012, no Bar Esquina 108, a partir das 14 horas.

Salve Cartola !!!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

80 anos de Ary do Cavaco

Na sexta-feira (17/02), Ary do Cavaco completaria 80 anos. E certamente estaria emocionado com o desfile da Portela, a escola de sua paixão.
O velho Ary foi um baluarte da azul e branco de Madureira, tendo participado de disputas de Samba-Enredo desde os 20 anos de idade. E mesmo no ano de sua partida, participou da disputa. O Samba derradeiro não venceu, mas a história que Ary escreveu em linhas harmônicas e melódicas foi muito mais importante.
Quem não se lembra de clássicos como Lapa em três tempos, gravado por Paulinho da Viola (“abre a janela formosa mulher, cantava o poeta trovador”)? Ou os refrões marcantes de Mordomia, gravada por Guineto (“Ô, Maria, ô, Maria! vamos parar já com essa mordomia”), e Reunião de bacana (“Se gritar pega ladrão não fica um, meu irmão”). Ao lado de outras tantas canções marcantes, Ary cantou a passagem de um Rio de boêmios e malandros para uma cidade cosmopolita e caótica.
Neste carnaval, neste mês, neste ano, lembremos sempre se Ary do Cavaco e do tempo por ele exaltado, quando “o Samba era no chão, briga era na mão, e com malandro não tinha vacilação”.
Otacílio da Mangueira e Ary do Cavaco

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Clementina de Jesus




Clementina de Jesus é uma das figuras mais importantes no mundo do Samba. Negra, mulher e filha de escravos, Clementina representa em sí mesma toda a história do antepassado afro-descendente, das mulheres matriarcas, enfim, de um grupo social pouco valorizado em nossa sociedade.
Nascida na cidade de Valença (RJ) em 1901, e descoberta por Hermínio Bello de Carvalho no morro da Mangueira, após ter trabalhado como empregada doméstica por mais de 20 anos, Clementina de Jesus passou a viver da sua arte, já acima dos 60 anos de idade.
Clementina foi porta-voz das tradições de origem afro, soltando sua potente voz para cantar sambas, corimás, jongos, cantos de trabalho e assim por diante. Assim, ela representa toda uma síntese da ancestralidade cultural do povo negro com a relativa modernidade do samba urbano.

E é por isso que o Projeto de Samba Sibipiruna terá a humilde honra de homenageá-la. 
Estão todos convidados. Dia 04/03, na bar Esquina 108, Barão Geraldo, Campinas - SP.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho

O Samba, como manifestação cultural, é um espelho da sociedade, com todos seus conflitos e nuances. Neste sentido, é natural que seja um espaço permeado por machismo, em maior ou menor grau. Entretanto, contra o talento, não há argumentos. E o mundo do Samba testemunhou quando, no auge da repressão militar, pela primeira vez uma mulher, negra, Sambista, passou a integrar uma ala de compositores de Escola de Samba no Rio de Janeiro (Império Serrano, 1965). A Dama do Samba, Dona Ivone Lara.
Não há, no vocabulário, adjetivos o bastante para defini-la em sua genialidade e carisma. Autora de grandes sucessos, cantora e compositora de talento ímpar, Dona Ivone Lara será a homenageada de fevereiro no Projeto de Samba Sibipiruna. Singela, porém justa homenagem. Desse modo, devagarinho, pretendemos abraçar a diversidade que faz do Samba essa rica cultura.
Fica o convite: Domingo, 05/02/12, a partir das 14h, lugar de mulher é na roda de Samba. Rua Julia Leite de Barros, 108, Barão Geraldo, Campinas. Perto da Moradia Estudantil da Unicamp.