terça-feira, 10 de abril de 2012

É bom no Samba, é bom no couro



Quem é que não se lembra do brado ufanista, motivado pela conjuntura política e fomentado pela conquista da seleção de 1970? Mais do que este momento pontual, a frase revela a relação íntima entre o Samba e o futebol, duas paixões nacionais tão distorcidas nos dias atuais... Sem preconceito ou mania de passado, a nossa homenagem de maio vai para dois craques da pelota que deixaram a carreira de jogador para se dedicarem ao Samba.

Janeiro de 1996. No bairro de Jacarepaguá, Rio, um atropelamento, uma vítima fatal e um motorista em fuga sem prestar socorro. Fato usual nas grandes cidades brasileiras, até os dias atuais, vitimava, desta vez, um grande Sambista, compositor e intérprete: Roberto Ribeiro.

Apaixonado por futebol, foi goleiro profissional pelo Goytacazes F. C. em sua cidade natal e chegou treinar no Fluminense, mudando-se para o Rio em 1965. Mas foi a partir de 1971, defendendo Sambas pelo Império Serrano, que ganhou destaque no universo artístico.

Cantar Roberto Ribeiro é homenagear Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho, Wilson Moreira, Nei Lopes, Monarco, Xangô, Nelson Rufino, Silas de Oliveira, Aniceto do Império. É uma homenagem ao Samba, Jongo, Ijexá, Afoxé, tantos ritmos e influências que jamais poderiam caber em um parágrafo.
Outro craque dessa seleção do Samba, de que não podemos nos esquecer, tanto pela ocasião de seu falecimento (30/03/12), quanto pela sua importância no Samba baiano, foi Ederaldo Gentil. É dito que o meia-esquerda do Esporte Clube Guarany, que teve ainda uma breve passagem pelo Vitória, poderia facilmente seguir a carreira de atleta. Mas o chamado do Samba foi mais forte.

Ederaldo nasceu no centro da velha Salvador e ganhou destaque no bairro do Tororó, para onde se mudou na adolescência, integrando a ala de compositores da Escola de Samba Filhos de Tororó. Compositor de sucesso, conta-se que Gentil resolveu afastar-se de sua Escola em 1969, sendo prontamente assediado pelas demais. Deste modo, em 1970, à excessão dos Filhos de Tororó, todas as outras nove Escolas de Samba desfilaram com um enredo de sua autoria.

O futebol e o Samba certamente já viveram tempos melhores que os atuais. E o Samba da Sibipruna fará homenagem a esses dois nomes de peso no dia 6 de maio, em celebração a esses tempos que não voltam, mas que merecem ser lembrados. ‘Tem que ser agora, ou nunca mais’, pois, quando menos se espera, ‘o ouro afunda no mar...’

2 comentários:

  1. Boa Rodolfo.
    Acredito que seja importante frisar o falecimento de Ederaldo Gentil a duas semanas atrás. Como acontece com a maioria dos sambistas, muitos se vão sem o devido reconhecimento, nem do povo em geral nem da mídia em particular. Ederaldo é um destes grandes mestres do sambas, um grande compositor, autor de canções com tonalidades de tristeza, abarcando o cotidiano do povo brasileiro. Ederaldo ficou duas décadas esquecido pela mídia, mas suas canções são únicas no samba, e transparece sua humildade. Como diz uma de suas músicas: "sou o menor dos pequeninos, o mais pobre dos plebeus, do alheio, o inquilino, o mais baixo pigmeu, o comum do singular,o último dos derradeiros". Porque ele sabia que no fim, é a simplicidade e a humildade que vence. O Ouro, afunda no mar, e por cima, só fica quem é madeira.
    Salve Ederaldo Gentil

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  2. Essas duas décadas no ostracismo 'coincidem' com a explosão do que ficou conhecido popularmente como axé-music, movimento que acabou por atrair a atenção de muitos setores da sociedade. A decisão parece ter um caráter político: o carnaval se internacionalizou, a tecnologia do trio-elétrico dominou o cenário, muitos Sambistas acabaram por se afastar das atividades artísticas. Mas quem procura, acaba encontrando muito ouro e pérolas finas sob esse mar de músicas meramente comerciais.

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