Wilson Moreira nasceu em 1936, na cidade do Rio de Janeiro. Sua família havia migrado de Minas Gerais - tradicional região de jongueiros - para o bairro do Realengo, subúrbio da zona norte carioca, onde o garoto cresceu. Quando jovem, desfilava na Escola de Samba Água Branca tocando tamborim. Mais tarde, quando esta agremiação se juntou à Mocidade Independente de Padre Miguel, sob o nome desta, Wilson passou a tocar surdo na bateria que viria a se destacar como uma das melhores do Rio de Janeiro, sob a liderança do grande Mestre André. Na Mocidade, Wilson foi um dos fundadores da Ala de Compositores e também de uma das principais alas da escola, a Ala Mocidade Unida de Realengo.
Algum tempo depois, em meados da década de 60, Wilson entrou para a Escola de Samba Portela e sua renomada Ala de Compositores, da qual faziam parte bambas como Candeia, Manacéia, Alvaiade e Casquinha. Na Portela, tornou-se parceiro de Candeia em dois sambas que faziam muito sucesso por lá, “Mel e Mamão com Açúcar” e “Não tem veneno”.
Entre 1968 e 1970, Wilson realizou um curso de música com o famosos maestro Guerra-Peixe, no MIS do Rio de Janeiro, graças a uma bolsa de estudos distribuída entre compositores de Escolas de Samba cariocas. Também no final da década de sessenta, Moreira fez parte do grupo de samba “Os Cinco Só”, que teve várias formações, com grandes sambistas como Darcy da Mangueira, Pelado da Mangueira, Jair do Cavaquinho e Garcia do Salgueiro. Paralelamente à vida de sambista, Wilson trabalhava como carcerário na penitenciária de Bangu, profissão que exerceu até se aposentar (ver link 1 no final do texto).
Foi na década de 70 que Wilson Moreira veio a conhecer Nei Lopes, aquele que seria o seu mais constante parceiro e com o qual compôs alguns dos seus maiores sucessos. Conta o próprio Nei Lopes que na época ele procurava um parceiro para as letras que compunha, e foi Délcio Carvalho quem indicou Wilson Moreira, dizendo para o amigo que aquele sambista da Portela “colocava melodia até em bula de remédio”.
Em 1974 gravou as faixas “Mel e Mamão com Açúcar” e “Meu Apelo” no disco “Quem Samba Fica”, que contava com outros grandes compositores como Casquinha e Sidney da Conceição e a compositora Dona Ivone Lara. No ano seguinte, participou de dois discos do lendário grupo de partido-alto “Partido em 5”, ao lado de outros feras da nossa música como Candeia, Velha e Anézio. Com este mesmo grupo, voltaria a gravar em 1985, quando foi revelado o seu apelido “Alicate”, devido ao fato de apertar a mão dos outros bem forte quando cumprimentando.
Falando em Partido-Alto, Wilson Moreira fez participações em dois filmes gravados na década de 70 que visavam registrar os bambas nesta modalidade de samba. No filme “Partido Alto” (1976 – 1982) de Leon Hirszman, o portelense aparece tocando ganzá, versando no partido de Candeia e dançando o miudinho. Já no curta metragem “Partideiros” (diretor não identificado), de 1978, Wilson é um dos entrevistados e canta seu partido “Coisa da Antiga”, parceria com Nei Lopes, gravado por Clara Nunes (ver links 2 e 3 no final do texto).
Na primeira metade da década de oitenta, Wilson Moreira gravou dois discos ao lado de seu parceiro Nei Lopes, os clássicos “A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes” em 1980 e “O Partido Muito Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes” de 1985. Na segunda metade desta década, por sua vez, o sambista gravou dois discos solos. O primeiro deles, lançado no Brasil e intitulado “Peso na Balança”, trouxe alguns dos mais belos sambas do compositor, como aquele que dá título ao disco e outros como “Portela e seus Encantos” e “Um Samba pra Ela que Chora”. O segundo disco individual de Moreira “Okolofé” foi gravado graças a uma parceria com um produtor japonês e lançado inicialmente só no Japão. Neste disco, o grande violonista Raphael Rabello participou em “Canção Carreiro”. Reza a lenda que Rabello, em carreira solo, já havia parado de acompanhar cantores, mas ao ouvir as belíssimas e singulares melodias de Wilson Moreira, teria se convidado para acompanhar o cantor.
A década de 90 foi marcada pela participação de Wilson em discos como “Estácio e Flamengo – 100 anos de samba e amor” e “50 anos” - este último de Aldir Blanc -, mas também por um acontecimento não muito feliz. Em 1997 ele teve um derrame, que debilitou sua saúde. Então os amigos sambistas, naquele momento de dificuldade, se uniram em prol do portelense, realizando apresentações que trouxeram novamente a alegria e a esperança para o coração de Okolofé. Certamente, a solidariedade dos amigos fez com que Wilson se recuperasse mais rápido e iniciasse os anos dois mil gravando novamente. “Entidade”, lançado em 2002, é um dos mais belos álbuns de samba, repleto de brasas como “Oloan”, “Jeito da Roça”, “Jongueiro Cumba” e “Pregoeiro do Amor”. O disco traz o samba em seus diversos aspectos e formatos, desde o jongo, a congada, o calango, passando pela temática religiosa, o samba de quadra e o partido-alto. Inúmeras homenagens então começaram a ser realizadas, para celebrar a vida e a obra deste autêntico compositor popular brasileiro; inclusive um show no ano de 2006 em homenagem aos setenta anos de Wilson Moreira. Em 2011 foi inaugurado o “Centro Cultural Solar de Wilson Moreira”, espaço em homenagem ao sambista, dedicado a eventos de samba e temática popular e afro-brasileira. Naquele espaço foi lançado o disco “Wilson Moreira + Baticum”, que havia sido gravado na década de 90. Neste disco, “Alicate” é acompanhado por quatro dos maiores percussionistas brasileiros, em arranjos originais e recheados de atabaques.
Como um bom sambista e melodista que é, Wilson Moreira teve inúmeros parceiros ao longo da sua trajetória no samba. Dentre eles, destacam-se Candeia, Nei Lopes, Neizinho e Jurandir Cândido. Suas letras e melodias foram gravadas por grandes intérpretes como Clara Nunes, João Nogueira, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione e Elizeth Cardoso. Entre alguns dos sucessos emplacados estão “Goiabada Cascão” (com Nei Lopes), gravado por Beth Carvalho, “Leonel/Leonor” (com Neizinho), gravado por Roberto Ribeiro, “Gostoso Veneno” (com Nei Lopes) gravado por Alcione, além de “Quintal do Céu” e “Judia de Mim” gravados por Zeca Pagodinho.
Wilson Moreira, pela sua obra, pela pessoa que é e pela sua trajetória no samba, merece todas as homenagens do mundo. Como a Sibipiruna não quer ficar de fora, armou ela também a sua homenagem a este autêntico produto brasileiro, bem resolvido com sua identidade, com sua religiosidade e musicalidade. A sua bênção Wilson Moreira! A Sibipiruna pede passagem, até as suas raízes vão balançar no dia 02 de novembro ao som das brasas deste grande sambista!
André Santos
25/10/2014
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