Campinas,
30/09/2015,
Às centenas de pais e mães da família poligâmica sibipirunense (que não se
encaixa no conceito “feliciano” de família)
Como
a família é grande, não sei se todo mundo está sabendo, mas no próximo domingo,
dia 04/09/2015, nossa querida filha, a Sibipiruna, completará
seus 4 anos de idade. Paulatinamente ela está deixando de engatinhar, tornando-se
mais independente, e, ao mesmo tempo, mais consciente e madura quanto aos seus
limites e potencialidades.
Ainda outrora bebê, essa criança bagunceira passou por momentos de dificuldades neste
ano. A condição pueril ainda é um entrave para as novas responsabilidades que a
vida paulatinamente vai impondo. Ao mesmo tempo, ainda lhe falta senso de
responsabilidade, uma vez que é preciso aprender que “nada cai do céu”, que as
coisas são construídas em conjunto, com o nosso trabalho.
Apesar
dos quatro anos, esta criança já passou por fortes situações emocionais. Grandes
amigos se foram, novos amigos vieram. Essa criança brigou, chorou, amou, sofreu,
se dividiu e se recompôs.
Ora mais enfraquecida, ora mais fortalecida, ela vem percebendo que é diferente das outras crianças, mas também carrega muitas semelhanças. Que ela tem muitas qualidades, mas também carrega diversos limites e defeitos.
Ela olha para o lado e percebe que o lugar em que
ela mais gosta de estar é na rua, trocando e compartilhando com seus
semelhantes, mas que seus semelhantes são, em sua maioria, muito diferentes daquelas
humildes pessoas que lhe ensinaram a ser o que ela ainda está buscando ser. Ela
fica triste por isso.
Impulsiva,
sagaz e bagunceira, dizem que ela vem desenvolvendo de modo muito precoce, e de
forma um pouco descarada, suas libidos. Constantemente é preciso chamar a
atenção da criança quanto à sua idade e aos seus desejos, principalmente quando
ela transita em seu estado de euforia, que normalmente ocorre quando ela brinca
na rua com seus semelhantes até a noite.
É
preciso comentar sobre um trauma ocorrido lá pelas bandas do carnaval. Ela
estava, como sempre faz, ritualisticamente, todo o primeiro domingo do mês,
brincando na esquina 108 de Barão Geraldo, quando uns homens de cara fechada,
com farda, e armados vieram tirar seus brinquedos, ameaçando fechar nosso
parquinho de diversões. Disseram pra ela que eram os “Coxinhas”. Ela achou
engraçado: nunca pensou que poderia existir uma coxinha gigante (kkkkkkkkk).
Ainda bem que várias outras criança chegaram, de todas as partes, lá do Bairro
Cupinzeiro das tantas, da Avenida Altaneira de tal, da Praça Maracatucá da
Silva, do Sítio Berra Vaca, dentre outros. Elas fizeram uma bagunça tremenda na
praça, que os tais “Coxinhas” se amedrontaram e evaporaram como um passe de
mágica. Se uma criança “incomoda” muita gente, várias crianças então ...
É!
Este ano foi duro! Mas apesar dos pesares, essa criança carrega em si uma
bondade e uma capacidade acolhedora enorme. Tenta agregar a todos de forma
indiscriminada, e carrega o espírito da diversidade. Mesmo com vários problemas
ocorridos durante o ano, ela, como ninguém, aprendeu cedo a melhor forma de
existir, insistir e resistir aos obstáculos da vida: sorrir e acreditar.
Quando eu fico triste, pensando sobre as questões da vida, ela vem me tirar pra dançar e cantar, contagiando-me. Logo esqueço os problemas e volto a estar feliz. Ela sobe em meu ombro e canta em meu ouvido a sua música predileta: "Eu fico com a pureza da resposta das crianças: é a vida! É bonita e é bonita!".
E eu acredito, e aí gente samba sem parar ...
Te
espero domingo no mesmo lugar de sempre OK?
Ahhh
... se acaso encontrarem o Silas ou o Feliciano avisem que o Boechat tem um
recado pra eles ...
Bjs