E VAMOS DE MARCHINHA,
MÚSICA DE CARNAVAL!
Por Carla Vizeu
“Alalaô, ô, ô,ô, ô, ô,ô!
Mas que calor, ô,ô, ô,ô,ô,ô!
Neste domingo eu vou pra Sibipiruna
Cantar umas marchinhas divertidas com a turma!”
No primeiro domingo de março é carnaval e a roda
mais querida entra no reinado de Momo fazendo uma folia com marchinhas! , Teremos as marchinhas como homenageadas na edição especial de carnaval, mais curta, que terminará “emendada” com a concentração do
Bloco Cultural União Altaneira.
Falamos bastante de samba, mas o que podemos falar das marchinhas?
A marchinha é um gênero musical de compasso binário, raramente quaternário, e com o primeiro tempo fortemente acentuado. Gênero que está intimamente relacionado ao
carnaval. Tanto que contam os registros históricos que a primeira música feita
especificamente pro carnaval foi uma marcha. Trata-se de Abre-alas, da famosa
pianista e compositora Chiquinha Gonzaga, feita para o cortejo do Rancho Rosa
de Ouro, que com ela venceu o carnaval de 1899. E nós a ouvimos todo carnaval,
até hoje!
José Ramos Tinhorão disse que “os gêneros de música
urbana reconhecidos como mais autenticamente cariocas – a marcha e o samba –
surgiram da necessidade de um ritmo para a desordem do carnaval.” Ou seja, para
acompanhar as mudanças que ocorriam no carnaval, como as que os Ranchos fizeram
quando passaram a adotar uma formação de procissão em seu desfile, foram
criados ritmos que fossem mais adequados à caminhada dos foliões.
Segundo o Dicionário Musical Brasileiro, "No
Brasil a marcha popularizou-se nos blocos carnavalescos como marcha-rancho e
marcha de salão e segue a fórmula introdução instrumental e estrofe-refrão.”
Apesar de datar de fins do século XIX, a marcha se consolidou enquanto gênero
musical (e carnavalesco) em meados da década de 1920, desenvolvendo-se como
gênero característico da classe média carioca. Sofreu em seu ritmo influências
externas que vão desde o one-step ao charleston norte americano, passando pela
marcha portuguesa, além de incorporar boa parte do lirismo e do sentimentalismo
de nossa modinha. Jocosas e espirituosas, com sátiras políticas e sociais, as
marchinhas foram se popularizando mais e mais.
Em 1930, a Casa Edison organizou seu primeiro
concurso de músicas carnavalescas. Venceu Ary Barroso, com a marcha "Dá
nela", que o lançaria no cenário nacional. A partir de 1932, a prefeitura
do Rio de Janeiro instituiu um concurso oficial de músicas para o carnaval, e a
marchinha viu sua popularidade crescer. Na década de 1930, foram se tornando
mais populares, no que ajudava a divulgação feita pelo rádio e pelo cinema.
Alguns autores destacaram-se como compositores de marchinhas, tais como
Lamartine Babo, Nássara, João de Barro, o Braguinha, Wilson Batista, Haroldo
Lobo e Alberto Ribeiro. O mesmo se deu com diversos cantores e cantoras que se
consagraram, interpretando marchas carnavalescas, como foi o caso de Carmen
Miranda, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Linda Batista, Emilinha Borba,
Marlene, Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas e muitos outros.
Entre as décadas de 1930 e 1950, muitas marchinhas
tiveram destaque: Taí, de
Joubert de Carvalho (e primeiro grande sucesso de Carmen Miranda); Mamãe eu quero, de Jararaca e
Vicente Paiva; O teu cabelo não nega,
dos Irmãos Valença e Lamartine Babo; Linda
morena, de Lamartine Babo; A
jardineira, de Benedito Lacerda e Humberto Porto; Linda lourinha, de Braguinha (anos 30); Ala-la-ô,
de Nássara e Haroldo Lobo; Aurora,
de Mário Lago e Roberto Roberti; Eu
brinco, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz (anos 40); Touradas em
Madri, Chiquita bacana
e Yes, nós temos banana, de
Braguinha e João de Barro; Tem nego
bebo aí, de Mirabeau e Airton Amorim; Cachaça, de Mirabeau, Lúcio de Castro e Héber Lobato; Saca-rolha, de Zé da Zilda, Zilda
do Zé e Waldir Machado; Sassaricando,
de Luis Antônio, Jota Junior e Oldemar Magalhães (anos 50). Quem nunca ouviu sequer uma destas?... Sinal de que seguiram
cantadas pelos foliões ao longo de décadas...
As décadas de 1960, 70 foram uma fase de declínio
das marchinhas carnavalescas, muito embora tenhamos muitos clássicos desta
época como: Me dá um dinheiro aí,
de Homero Ferreira, Glauco Ferreira e Ivan Ferreira; Olha a cabeleira do Zezé, de João Roberto Kelly e Roberto
Faissal; Mulata bossa nova, de
João Roberto Kelly; De marré marré,
de Raul Sampaio, Índio quer apito,
de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, A
marcha do remador, de Antônio Almeida e Oldemar Magalhães, Máscara negra, de Zé Kéti e
Pereira Matos (anos 60); A pipa do
vovô, de Ruth Amaral, e Maria
Sapatão lançada pelo comunicador Chacrinha.
É que o carnaval de rua também entrara em declínio
na década de 1970, e isto prejudicou imensamente a marchinha. Mesmo assim, ela apareceu
uma vez ou outra, a partir de alguns concursos carnavalescos, ou então, através
de regravações como foi o caso de "Festa do interior", de Braguinha e
Alberto Ribeiro, gravada inicialmente por Carmen Miranda em 1937, e relançada
com grande êxito por Gal Costa em 1983.
Ao mesmo tempo em que houve um declínio da marchinha
carnavalesca, também pode-se perceber a influência deste gênero sobre vários
compositores “não-carnavalescos” como João Bosco (Rancho da Goiabada) e Chico Buarque
(Noite dos mascarados, Boi Voador, Rio 42) ou no repertório de cantoras como Clara Nunes (Estrela Guia, de
Sivuca e Paulo César Pinheiro).
O carnaval de rua no Rio de Janeiro retoma sua
vitalidade no começo do século atual e com isso houve chance pra revitalização
das marchinhas também, através de concursos como o da Fundição Progresso, que
em 2006 instituiu o Concurso Nacional de
Marchinhas Carnavalescas. Isto alimentou a produção de novas marchinhas e ano a
ano cresceu o número de inscritos, chegando a 947 em 2011 no concurso citado. É interessante perceber como pouco mudou o gênero no aspecto musical, se comparado a outro gênero carnavalesco, como o samba-enredo, por exemplo...
As marchinhas seguem eternas em nossos corações! É um
repertório querido por quase todo folião... E nosso próximo encontro é dia 02
de março, às 15h, para relembrar as marchinhas carnavalescas à sombra da
Sibipiruna, animando o domingo de carnaval!
Fonte:
1- http://www.dicionariompb.com.br/marcha-carnavalesca/dados-artisticos
Fonte:
1- http://www.dicionariompb.com.br/marcha-carnavalesca/dados-artisticos
2- Pequena história da Música Popular - José Ramos Tinhorão (Ed. Vozes, 1974)