^^ E assim se fez (re)conhecido, por entre cabrochas e bambas, batucadas e palhetadas, nosso muito estimado ¨Moleque Atrevido¨, compositor sofisticado e de irrestrita sensibilidade e profundidade. Sua graça despontou na cena do samba quando gravado por ninguém menos que Elza Soares em 1976, catapultando aos nossos ouvidos sua singular veia poética e musical: surge, pois, nosso arrojado ¨Malandro¨. Berço do carnaval carioca, comentarista dos desfiles das escolas cariocas, o barbudo sorridente de ¨Cabelo Pixaim¨, difícil de se aturar, tivera seu primeiro álbum solo gravado em 1981 que leva como título seu próprio nome, alcançando um pouco mais de 20 discos.
Ex-integrante do Cacique de Ramos, estabelecera diversas parcerias
com outros membros – deste famoso bloco carnavalesco que desfilava
na Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro – e hábeis partideiros das
festivas rodas de samba ocorridas às quartas-feiras. Dentre outros,
Almir Guineto, Bira Presidente, Neoci (filho do célebre compositor
João da Baiana), Sereno, Sombrinha e Ubirany.
Em poucos anos, a nova batucada decorrente das rodas de samba
caciqueanas em que Jorge Aragão estivera presente incorporou
ingredientes temperados pela ausência de pré-conceitos comumente
tradicionalistas; invenções de instrumentos percussivos inusitados
(o banjo, por Almir Guineto, o tantã, por Sereno e o repique de mão
pelo Ubirany) trouxeram uma nova roupagem estética às rodas de
samba, abrindo terreno para o batuque brasileiro se comunicar, o
pagode popular se firmar e recriar sua voz ativa, expressão poética
espontânea e oriunda ¨Do Fundo do Nosso Quintal¨. E a tradição
se refez, renovou sua ¨Coisa de Pele¨, propôs o diferente,
alteridade a ser respeitada por quem chegou primeiro, inexorável
correnteza que transcende e chacoalha as mono-definições da
radicular ¨Identidade¨, fincada em estandartes dominantes da pureza
do samba, certo ¨Abuso de Poder¨, podões dos corolários
positivamente subversivos a certa ordem.
Assim, as canções “jorgeanas” brilharam, alçaram um destemido
¨Vôo de Paz¨ e conquistaram um inegável ¨Alvarᨠartístico,
penetrando na vida musical de todos admiradores não discriminadores
de samba no pagode ou de pagode com samba (ou será ao contrário?).
Zeca Pagodinho, outra cria do Cacique, Beth Carvalho, Emílio
Santiago, Alcione, Martinho da Vila flertaram, cortejaram e se
entregaram a uma espécie de ¨Amor à Primeira Vista¨, singelo
¨Feitio de Paixão¨ com nosso homenageado do mês, gravando e
regravando suas músicas.
¨De Sampa a São Luís¨, ¨De Paris a Irajá¨, rogos de preces ao
poder de ¨Sanguiné¨, advento de ¨Novos Tempos¨, Jorge Aragão,
um também ¨Adepto do Samba Sincopado¨, proporcionou deleitosas
noites de ¨Reflexão¨ sobre ¨Guerra e Paz¨, sobre os meandros
imperceptíveis e espaços irreconhecíveis no âmago dos corações:
os sempre almejados e desbravados ¨Mistérios do Peito¨;
desfibrilou a ¨História do Brasil¨, recitou o ¨Amor dos Deuses¨
ao pé do ouvido dos ¨Amigos... Amantes¨, estes ainda ¨Ontem¨
rediscutindo sua ¨Doce Amizade¨; quiçá afogando a ¨Sede¨ de
paixões sobrescritas num simples ¨Papel de Pão¨, confessando por
entre lágrimas e juras sua incorruptível ¨Ponta de Dor¨,
embargando a voz e desejando obter, por intermédio divino, um ¨Resto
de Esperança”. E ao longe, baixinho, ouvidos apaixonados buscando
soluções e refletindo as consequências das ¨Loucuras de uma
Paixão¨, na frequência mais antiga da ¨Faixa Nobre¨ de um ¨Tape
Deck¨. Sonhos de que um dia seja remendada a ¨Colcha de Algodão¨,
decifrado o ¨Teor Invendável¨ da apoteose daquele sempre inédito
e misterioso ¨Enredo do Meu Samba¨.
Sua tonitruante voz reverberou quem sabe até mesmo no ¨Quintal do
Céu”, deixou espectadores celestes ¨Chorando Estrelas” e
amargando o fel de uma disparatada e ¨Fria Lição¨. Aquela
desastrada e melancólica ¨Borboleta Cega¨, confusa sobre a
¨Tendência¨ de tal ou qual vento que lhe vem arrebatar o caminho,
enganada pela ¨Quinta Promessa¨ da ¨Raiz e Flor¨. ¨Logo Agora¨?
Quando mais se pensou que seríamos ¨Eu e Você Sempre¨?
Enfim, homenagem é homenagem, feita com amor e respeito embebidos
daquela alegria comumente encontrada em rodas de samba. A ti, Jorge
Aragão, as nossas energias e nosso axé! O senhor já foi, ¨Já é”
e sempre será um fantástico compositor, e, em sensata conformidade
com o movimento transformador da história, que continue sempre
inovador e agregador do samba pagodeado ou pagode sambeado, o qual
certamente não findou e não ¨Termina Aqui¨.^^
Por Fernando Roberti (Broke)